jueves, 23 de noviembre de 2017

Entrincheirados: intrigas políticas no partido do governo do Equador

A guerra de posições, também conhecida como guerra de trincheiras, foi utilizada como tática militar na guerra de secessão dos Estados Unidos e na guerra russo-japonesa, mas adquiriu seu protagonismo mundial a partir do fracasso da ofensiva relâmpago iniciada na Europa pelos alemães em 1914. A estratégia militar de frentes estáveis imobilizou durante anos os exércitos em linhas de trincheiras. Este novo cenário bélico propiciou uma guerra de desgaste, produziu um elevadíssimo número de baixas e arruinou o moral dos soldados que se viam obrigados a lutar durante anos em penosas condições.

Nas passagens mais lendárias dos seus Cadernos do Cárcere, Antônio Gramsci refletiria sobre estas estratégias de guerra, posição e manobra – defendendo esta última como o assalto -, entendendo o Estado como apenas uma trincheira mais avançada do conjunto de fortificações dos setores populares em sua luta pela hegemonia. Gramsci teve de reler Maquiavel para entender que a hegemonia é a capacidade orgânica dos setores dominantes em convencer as maiorias sociais a aceitarem os relatos que justificam e explicam a ordem política.
Por Decio Machado
Correio da Cidadania
A guerra de posições, a disputa pela hegemonia e parte do pensamento estratégico de Gramsci em relação ao funcionamento do poder e o Estado moderno voltaram a tomar atualidade na disputa política existente no Equador.

No final deste mês de outubro, as facções “hard” dos seguidores do ex-presidente Rafael Correa dentro do partido governista, Alianza País – que controla parte importante da direção nacional do mesmo partido – determinou unilateralmente e de forma não regimental a retirada do atual presidente do Equador, Lenin Moreno, da presidência de sua agrupação política e posicionar em seu lugar Ricardo Patiño (que exercia como segundo vice-presidente do partido; já que o primeiro vice-presidente está preso, investigado por corrupção). O objetivo era que se fortalecessem nas trincheiras do aparelho do partido oficialista, com o fim de criar obstáculos às reformas empreendidas pelo atual mandatário e sua equipe de ministros.
A guerra de posições, também conhecida como guerra de trincheiras, foi utilizada como tática militar na guerra de secessão dos Estados Unidos e na guerra russo-japonesa, mas adquiriu seu protagonismo mundial a partir do fracasso da ofensiva relâmpago iniciada na Europa pelos alemães em 1914. A estratégia militar de frentes estáveis imobilizou durante anos os exércitos em linhas de trincheiras. Este novo cenário bélico propiciou uma guerra de desgaste, produziu um elevadíssimo número de baixas e arruinou o moral dos soldados que se viam obrigados a lutar durante anos em penosas condições.

Nas passagens mais lendárias dos seus Cadernos do Cárcere, Antônio Gramsci refletiria sobre estas estratégias de guerra, posição e manobra – defendendo esta última como o assalto -, entendendo o Estado como apenas uma trincheira mais avançada do conjunto de fortificações dos setores populares em sua luta pela hegemonia. Gramsci teve de reler Maquiavel para entender que a hegemonia é a capacidade orgânica dos setores dominantes em convencer as maiorias sociais a aceitarem os relatos que justificam e explicam a ordem política.

A guerra de posições, a disputa pela hegemonia e parte do pensamento estratégico de Gramsci em relação ao funcionamento do poder e o Estado moderno voltaram a tomar atualidade na disputa política existente no Equador.

No final deste mês de outubro, as facções “hard” dos seguidores do ex-presidente Rafael Correa dentro do partido governista, Alianza País – que controla parte importante da direção nacional do mesmo partido – determinou unilateralmente e de forma não regimental a retirada do atual presidente do Equador, Lenin Moreno, da presidência de sua agrupação política e posicionar em seu lugar Ricardo Patiño (que exercia como segundo vice-presidente do partido; já que o primeiro vice-presidente está preso, investigado por corrupção). O objetivo era que se fortalecessem nas trincheiras do aparelho do partido oficialista, com o fim de criar obstáculos às reformas empreendidas pelo atual mandatário e sua equipe de ministros.

Contudo, apenas umas horas depois, vários membros do gabinete presidencial e da burocracia da Alianza País rechaçariam publicamente tal decisão, definindo-a como arbitrária e antidemocrática. Diante da confusão generalizada da militância, simpatizantes e redes clientelistas do partido político hegemônico no Equador, o Tribunal de Garantias Penais deixou – de forma imediata – sem efeito a decisão adotada pela direção nacional do partido, proibindo o Conselho Nacional Eleitoral de inscrever o ex-ministro correísta Ricardo Patiño como novo presidente da Alianza País.

Origens da intentona

O enfrentamento entre correístas e morenistas dentro do partido governista tem sua origem praticamente no mesmo dia da posse do atual presidente, Lenin Moreno.

Isso apesar do fato de que Lenin Moreno foi parte do binômio presidencial de Rafael Correa nas eleições de 2006 e de 2009, exercendo durante ambas legislaturas como vice-presidente da República. Na atualidade, o ex-mandatário equatoriano é o principal opositor do seu governo. Na guerra de trincheiras dentro da Alianza País e nas distintas frentes institucionais, enquanto os partidários de Moreno traçaram uma política de reformas que levam consigo uma narrativa autocrítica a respeito de determinadas políticas públicas aplicadas durante a gestão anterior e a abertura de processos de investigação sobre distintos casos de corrupção institucional, os correístas tentam derrubar a figura do presidente posicionando-o como um traidor que se aliou com a direita.

Nesta disputa que vem ocorrendo nos pouco mais de seis meses de mandato de Moreno, o correísmo – ao menos até agora – aparece como claro perdedor. Enquanto o atual mandatário ostenta elevados índices de popularidade, a figura de Rafael Correa – que deixou uma economia nacional em recessão – acabou seriamente deteriorada, enquanto são destapados cada vez mais casos de corrupção entre os seus colaboradores mais próximos.

O último movimento tático do presidente Moreno foi convocar uma consulta popular sobre as sete propostas, entre as quais se destacam a anulação da emenda constitucional – realizada na última etapa correista – que permite a reeleição indefinida do presidente da República, buscando impossibilitar que Rafael Correa seja candidato presidencial nas próximas eleições; e a reestruturação do Conselho de Participação Cidadã e Controle Social – organismo estatal composto por personalidades ligadas ao ex-presidente – abrindo a possibilidade de avaliar o desempenho das autoridades em organismos de controle do Estado, e cessá-las.

Se aprovadas essas reformas – e todas as sondagens de opinião pública até o momento assim o indicam – o correísmo sofrerá um esvaziamento completo de poder e se anularia qualquer possibilidade futura de uma rearticulação política desta tendência.

E o movimento dos setores correístas dentro da sua organização política, buscando a destituição e posterior expulsão de Lenin Moreno do partido, deve-se justamente à iniciativa do atual governo de levar a cabo tais reformas. Em paralelo, esta fração política está pressionando a Corte Constitucional – cuja composição vem do período anterior e tem afinidade com Correa –, a fim de fazer que tais questões não sejam viabilizadas. De igual maneira, os correístas na bancada oficialista buscam bloquear as iniciativas políticas provenientes do Executivo e o juízo político contra o encarcerado vice-presidente Jorge Glas.

Jogo de estratégias

Sem força política e apoiado somente por um setor de voto duro identificado com seus postulados, o qual se estima entre 20% e 23% do eleitorado, o correísmo é consciente de que o tempo joga contra.

O desenho estratégico do correísmo para tentar destituir Moreno consistia em gerar uma crise política dentro do partido Alianza País que desembocasse em uma convenção nacional extraordinária, a qual, com Rafael Correa à cabeça, permitisse recobrar as rendas do partido e sua hegemonia perdida na política nacional. Contudo, este movimento político criado apenas seis meses antes da sua primeira vitória eleitoral em 2006, e sem bases políticas naquele momento, se construiu verticalmente à sombra do poder, com quadros e caciques políticos de perfil arrivista e fortemente enraizado na tradicional política clientelista equatoriana, elementos que deixaram de ser funcionais ao correísmo uma vez que o ex-mandatário abandonou a poltrona presidencial.

Os resultados deste último pulso político foram devastadores para Rafael Correa: os morenistas anunciaram publicamente que 44 dos 75 congressistas que conformam a bancada oficialista na Assembleia Nacional se alinharam a Lenin Moreno, o que veio a significar que Correa perdeu o controle do Legislativo, enquanto que a maioria das direções provinciais do partido manifestaram rejeição à resolução da direção nacional e seu apoio a Lenin Moreno.

Pese tudo isto, Ricardo Patiño, principal operador político de Correa no país enquanto este segue residindo em Bruxelas, anunciou a pronta chegada do ex-mandatário a terras equatorianas, prevendo que os principais dirigentes correístas que participaram nesta movida podiam ser expulsos pela Comissão de Ética e Disciplina do Alianza País.

Se Rafael Correa volta nos próximos dias ao Equador possivelmente não será para reestabelecer sua liderança no partido que fundou – já que as trincheiras do correísmo no partido e em diferentes instituições têm ficado sumamente debilitadas – senão para liderar a conformação de uma nova organização política buscando confrontar politicamente com o atual governo e opondo-se à consulta popular.

Risco de desgaste

O presidente Moreno soube rentabilizar seu distanciamento de Correa, propondo a necessidade do diálogo e do consenso em uma sociedade que havia ficado fortemente polarizada, e levando a bandeira da luta contra a corrupção. Não obstante, a capacidade de execução política do governo foi limitada: ainda que não se saiba qual seja o caminhar desta legislatura. E ao se tratar de um presidente cuja popularidade se baseia unicamente no discurso, isto começa a gerar certas desconfianças na sociedade.

Por sua parte, tanto Rafael Correa como seus operadores no governo e na Alianza País buscam articular sua estratégia em torno do medo cidadão de uma possível volta do Equador ao passado, algo já utilizado em campanhas eleitorais, uma após a outra, durante a última década.

Trata-se de um argumento pouco consistente se levado em consideração que atualmente no Equador a oposição política a Alianza País não existe. Faz tempo que esta ficou sem espaço no tabuleiro da política nacional. De igual maneira, os movimentos sociais em geral, e indígenas em particular, também ficaram sem voz. Após dez anos de perseguições e criminalização do protesto social, estes movimentos se encontram atualmente imersos em negociações com um governo que ao menos se dispõe a escutá-los.

Assim, o panorama político para o médio prazo no Equador aponta como desolador. Enquanto a Alianza País se autodestrói, nem a oposição conservadora e nem a esquerda tradicional são capazes de posicionar alternativas com certa legitimidade social. A sua vez, o eleitorado é incapaz de distinguir entre as categorias políticas tradicionais de esquerda e de direita, pois logo de uma década de um discurso institucional revolucionário, adornado com velhas canções reivindicativas e alusões a múltiplos mitos revolucionários, resultou que os grupos economicamente mais beneficiados pelo regime foram os de sempre, enquanto a sociedade seguiu muito desequilibrada a favor dos historicamente privilegiados. Assim, denota-se um desinteresse crescente pela política tradicional em setores cada vez mais amplos da sociedade, nos quais a política não é mais discutida em termos de esquerdas e direitas.

Por outra parte, a incapacidade de renovação das lideranças históricas dos movimentos sociais equatorianos segue minando a possibilidade de novas formas de intervenção, a articulação de um discurso diferente e o reposicionamento do não institucional no âmbito da política, ficando esta última limitada às lutas de poder entre e dentro da estrutura partidária, que são disputadas sob o controle de instituições que não foram feitas para transformar a sociedade, senão para resistir às mudanças que a realidade demanda.

Não circulam novas ideias na política equatoriana, e não está sendo alimentada intelectualmente uma sociedade que busca, sem encontrar, estilos diferentes de exercer e atuar na política.

Com tais condições é fácil prever que, diante da ausência de alternativas com alguma credibilidade, se o atual governo não é capaz de concretizar políticas exitosas que dinamizem a economia nacional, gerem emprego digno e revitalizem a capacidade aquisitiva da grande maioria, o Equador estará imerso durante a atual gestão em uma nova crise de representatividade.

Leia também:

Lenín Moreno versus Rafael Correa: a nova disputa de poder no Equador

Vitória do correísmo não fará Equador escapar da regressiva dinâmica continental


Decio Machado é sociólogo e consultor político residente no Equador
Artigo publicado em espanhol no semanário Brecha, do Uruguai.
Traduzido por Raphael Sanz, para o Correio da Cidadania.
A guerra de posições, também conhecida como guerra de trincheiras, foi utilizada como tática militar na guerra de secessão dos Estados Unidos e na guerra russo-japonesa, mas adquiriu seu protagonismo mundial a partir do fracasso da ofensiva relâmpago iniciada na Europa pelos alemães em 1914. A estratégia militar de frentes estáveis imobilizou durante anos os exércitos em linhas de trincheiras. Este novo cenário bélico propiciou uma guerra de desgaste, produziu um elevadíssimo número de baixas e arruinou o moral dos soldados que se viam obrigados a lutar durante anos em penosas condições.

Nas passagens mais lendárias dos seus Cadernos do Cárcere, Antônio Gramsci refletiria sobre estas estratégias de guerra, posição e manobra – defendendo esta última como o assalto -, entendendo o Estado como apenas uma trincheira mais avançada do conjunto de fortificações dos setores populares em sua luta pela hegemonia. Gramsci teve de reler Maquiavel para entender que a hegemonia é a capacidade orgânica dos setores dominantes em convencer as maiorias sociais a aceitarem os relatos que justificam e explicam a ordem política.

A guerra de posições, a disputa pela hegemonia e parte do pensamento estratégico de Gramsci em relação ao funcionamento do poder e o Estado moderno voltaram a tomar atualidade na disputa política existente no Equador.

No final deste mês de outubro, as facções “hard” dos seguidores do ex-presidente Rafael Correa dentro do partido governista, Alianza País – que controla parte importante da direção nacional do mesmo partido – determinou unilateralmente e de forma não regimental a retirada do atual presidente do Equador, Lenin Moreno, da presidência de sua agrupação política e posicionar em seu lugar Ricardo Patiño (que exercia como segundo vice-presidente do partido; já que o primeiro vice-presidente está preso, investigado por corrupção). O objetivo era que se fortalecessem nas trincheiras do aparelho do partido oficialista, com o fim de criar obstáculos às reformas empreendidas pelo atual mandatário e sua equipe de ministros.

Contudo, apenas umas horas depois, vários membros do gabinete presidencial e da burocracia da Alianza País rechaçariam publicamente tal decisão, definindo-a como arbitrária e antidemocrática. Diante da confusão generalizada da militância, simpatizantes e redes clientelistas do partido político hegemônico no Equador, o Tribunal de Garantias Penais deixou – de forma imediata – sem efeito a decisão adotada pela direção nacional do partido, proibindo o Conselho Nacional Eleitoral de inscrever o ex-ministro correísta Ricardo Patiño como novo presidente da Alianza País.

Origens da intentona

O enfrentamento entre correístas e morenistas dentro do partido governista tem sua origem praticamente no mesmo dia da posse do atual presidente, Lenin Moreno.

Isso apesar do fato de que Lenin Moreno foi parte do binômio presidencial de Rafael Correa nas eleições de 2006 e de 2009, exercendo durante ambas legislaturas como vice-presidente da República. Na atualidade, o ex-mandatário equatoriano é o principal opositor do seu governo. Na guerra de trincheiras dentro da Alianza País e nas distintas frentes institucionais, enquanto os partidários de Moreno traçaram uma política de reformas que levam consigo uma narrativa autocrítica a respeito de determinadas políticas públicas aplicadas durante a gestão anterior e a abertura de processos de investigação sobre distintos casos de corrupção institucional, os correístas tentam derrubar a figura do presidente posicionando-o como um traidor que se aliou com a direita.

Nesta disputa que vem ocorrendo nos pouco mais de seis meses de mandato de Moreno, o correísmo – ao menos até agora – aparece como claro perdedor. Enquanto o atual mandatário ostenta elevados índices de popularidade, a figura de Rafael Correa – que deixou uma economia nacional em recessão – acabou seriamente deteriorada, enquanto são destapados cada vez mais casos de corrupção entre os seus colaboradores mais próximos.

O último movimento tático do presidente Moreno foi convocar uma consulta popular sobre as sete propostas, entre as quais se destacam a anulação da emenda constitucional – realizada na última etapa correista – que permite a reeleição indefinida do presidente da República, buscando impossibilitar que Rafael Correa seja candidato presidencial nas próximas eleições; e a reestruturação do Conselho de Participação Cidadã e Controle Social – organismo estatal composto por personalidades ligadas ao ex-presidente – abrindo a possibilidade de avaliar o desempenho das autoridades em organismos de controle do Estado, e cessá-las.

Se aprovadas essas reformas – e todas as sondagens de opinião pública até o momento assim o indicam – o correísmo sofrerá um esvaziamento completo de poder e se anularia qualquer possibilidade futura de uma rearticulação política desta tendência.

E o movimento dos setores correístas dentro da sua organização política, buscando a destituição e posterior expulsão de Lenin Moreno do partido, deve-se justamente à iniciativa do atual governo de levar a cabo tais reformas. Em paralelo, esta fração política está pressionando a Corte Constitucional – cuja composição vem do período anterior e tem afinidade com Correa –, a fim de fazer que tais questões não sejam viabilizadas. De igual maneira, os correístas na bancada oficialista buscam bloquear as iniciativas políticas provenientes do Executivo e o juízo político contra o encarcerado vice-presidente Jorge Glas.

Jogo de estratégias

Sem força política e apoiado somente por um setor de voto duro identificado com seus postulados, o qual se estima entre 20% e 23% do eleitorado, o correísmo é consciente de que o tempo joga contra.

O desenho estratégico do correísmo para tentar destituir Moreno consistia em gerar uma crise política dentro do partido Alianza País que desembocasse em uma convenção nacional extraordinária, a qual, com Rafael Correa à cabeça, permitisse recobrar as rendas do partido e sua hegemonia perdida na política nacional. Contudo, este movimento político criado apenas seis meses antes da sua primeira vitória eleitoral em 2006, e sem bases políticas naquele momento, se construiu verticalmente à sombra do poder, com quadros e caciques políticos de perfil arrivista e fortemente enraizado na tradicional política clientelista equatoriana, elementos que deixaram de ser funcionais ao correísmo uma vez que o ex-mandatário abandonou a poltrona presidencial.

Os resultados deste último pulso político foram devastadores para Rafael Correa: os morenistas anunciaram publicamente que 44 dos 75 congressistas que conformam a bancada oficialista na Assembleia Nacional se alinharam a Lenin Moreno, o que veio a significar que Correa perdeu o controle do Legislativo, enquanto que a maioria das direções provinciais do partido manifestaram rejeição à resolução da direção nacional e seu apoio a Lenin Moreno.

Pese tudo isto, Ricardo Patiño, principal operador político de Correa no país enquanto este segue residindo em Bruxelas, anunciou a pronta chegada do ex-mandatário a terras equatorianas, prevendo que os principais dirigentes correístas que participaram nesta movida podiam ser expulsos pela Comissão de Ética e Disciplina do Alianza País.

Se Rafael Correa volta nos próximos dias ao Equador possivelmente não será para reestabelecer sua liderança no partido que fundou – já que as trincheiras do correísmo no partido e em diferentes instituições têm ficado sumamente debilitadas – senão para liderar a conformação de uma nova organização política buscando confrontar politicamente com o atual governo e opondo-se à consulta popular.

Risco de desgaste

O presidente Moreno soube rentabilizar seu distanciamento de Correa, propondo a necessidade do diálogo e do consenso em uma sociedade que havia ficado fortemente polarizada, e levando a bandeira da luta contra a corrupção. Não obstante, a capacidade de execução política do governo foi limitada: ainda que não se saiba qual seja o caminhar desta legislatura. E ao se tratar de um presidente cuja popularidade se baseia unicamente no discurso, isto começa a gerar certas desconfianças na sociedade.

Por sua parte, tanto Rafael Correa como seus operadores no governo e na Alianza País buscam articular sua estratégia em torno do medo cidadão de uma possível volta do Equador ao passado, algo já utilizado em campanhas eleitorais, uma após a outra, durante a última década.

Trata-se de um argumento pouco consistente se levado em consideração que atualmente no Equador a oposição política a Alianza País não existe. Faz tempo que esta ficou sem espaço no tabuleiro da política nacional. De igual maneira, os movimentos sociais em geral, e indígenas em particular, também ficaram sem voz. Após dez anos de perseguições e criminalização do protesto social, estes movimentos se encontram atualmente imersos em negociações com um governo que ao menos se dispõe a escutá-los.

Assim, o panorama político para o médio prazo no Equador aponta como desolador. Enquanto a Alianza País se autodestrói, nem a oposição conservadora e nem a esquerda tradicional são capazes de posicionar alternativas com certa legitimidade social. A sua vez, o eleitorado é incapaz de distinguir entre as categorias políticas tradicionais de esquerda e de direita, pois logo de uma década de um discurso institucional revolucionário, adornado com velhas canções reivindicativas e alusões a múltiplos mitos revolucionários, resultou que os grupos economicamente mais beneficiados pelo regime foram os de sempre, enquanto a sociedade seguiu muito desequilibrada a favor dos historicamente privilegiados. Assim, denota-se um desinteresse crescente pela política tradicional em setores cada vez mais amplos da sociedade, nos quais a política não é mais discutida em termos de esquerdas e direitas.

Por outra parte, a incapacidade de renovação das lideranças históricas dos movimentos sociais equatorianos segue minando a possibilidade de novas formas de intervenção, a articulação de um discurso diferente e o reposicionamento do não institucional no âmbito da política, ficando esta última limitada às lutas de poder entre e dentro da estrutura partidária, que são disputadas sob o controle de instituições que não foram feitas para transformar a sociedade, senão para resistir às mudanças que a realidade demanda.

Não circulam novas ideias na política equatoriana, e não está sendo alimentada intelectualmente uma sociedade que busca, sem encontrar, estilos diferentes de exercer e atuar na política.

Com tais condições é fácil prever que, diante da ausência de alternativas com alguma credibilidade, se o atual governo não é capaz de concretizar políticas exitosas que dinamizem a economia nacional, gerem emprego digno e revitalizem a capacidade aquisitiva da grande maioria, o Equador estará imerso durante a atual gestão em uma nova crise de representatividade.

Leia também:

Lenín Moreno versus Rafael Correa: a nova disputa de poder no Equador

Vitória do correísmo não fará Equador escapar da regressiva dinâmica continental


Decio Machado é sociólogo e consultor político residente no Equador
Artigo publicado em espanhol no semanário Brecha, do Uruguai.
Traduzido por Raphael Sanz, para o Correio da Cidadania.
A guerra de posições, também conhecida como guerra de trincheiras, foi utilizada como tática militar na guerra de secessão dos Estados Unidos e na guerra russo-japonesa, mas adquiriu seu protagonismo mundial a partir do fracasso da ofensiva relâmpago iniciada na Europa pelos alemães em 1914. A estratégia militar de frentes estáveis imobilizou durante anos os exércitos em linhas de trincheiras. Este novo cenário bélico propiciou uma guerra de desgaste, produziu um elevadíssimo número de baixas e arruinou o moral dos soldados que se viam obrigados a lutar durante anos em penosas condições.

Nas passagens mais lendárias dos seus Cadernos do Cárcere, Antônio Gramsci refletiria sobre estas estratégias de guerra, posição e manobra – defendendo esta última como o assalto -, entendendo o Estado como apenas uma trincheira mais avançada do conjunto de fortificações dos setores populares em sua luta pela hegemonia. Gramsci teve de reler Maquiavel para entender que a hegemonia é a capacidade orgânica dos setores dominantes em convencer as maiorias sociais a aceitarem os relatos que justificam e explicam a ordem política.

A guerra de posições, a disputa pela hegemonia e parte do pensamento estratégico de Gramsci em relação ao funcionamento do poder e o Estado moderno voltaram a tomar atualidade na disputa política existente no Equador.

No final deste mês de outubro, as facções “hard” dos seguidores do ex-presidente Rafael Correa dentro do partido governista, Alianza País – que controla parte importante da direção nacional do mesmo partido – determinou unilateralmente e de forma não regimental a retirada do atual presidente do Equador, Lenin Moreno, da presidência de sua agrupação política e posicionar em seu lugar Ricardo Patiño (que exercia como segundo vice-presidente do partido; já que o primeiro vice-presidente está preso, investigado por corrupção). O objetivo era que se fortalecessem nas trincheiras do aparelho do partido oficialista, com o fim de criar obstáculos às reformas empreendidas pelo atual mandatário e sua equipe de ministros.

Contudo, apenas umas horas depois, vários membros do gabinete presidencial e da burocracia da Alianza País rechaçariam publicamente tal decisão, definindo-a como arbitrária e antidemocrática. Diante da confusão generalizada da militância, simpatizantes e redes clientelistas do partido político hegemônico no Equador, o Tribunal de Garantias Penais deixou – de forma imediata – sem efeito a decisão adotada pela direção nacional do partido, proibindo o Conselho Nacional Eleitoral de inscrever o ex-ministro correísta Ricardo Patiño como novo presidente da Alianza País.

Origens da intentona

O enfrentamento entre correístas e morenistas dentro do partido governista tem sua origem praticamente no mesmo dia da posse do atual presidente, Lenin Moreno.

Isso apesar do fato de que Lenin Moreno foi parte do binômio presidencial de Rafael Correa nas eleições de 2006 e de 2009, exercendo durante ambas legislaturas como vice-presidente da República. Na atualidade, o ex-mandatário equatoriano é o principal opositor do seu governo. Na guerra de trincheiras dentro da Alianza País e nas distintas frentes institucionais, enquanto os partidários de Moreno traçaram uma política de reformas que levam consigo uma narrativa autocrítica a respeito de determinadas políticas públicas aplicadas durante a gestão anterior e a abertura de processos de investigação sobre distintos casos de corrupção institucional, os correístas tentam derrubar a figura do presidente posicionando-o como um traidor que se aliou com a direita.

Nesta disputa que vem ocorrendo nos pouco mais de seis meses de mandato de Moreno, o correísmo – ao menos até agora – aparece como claro perdedor. Enquanto o atual mandatário ostenta elevados índices de popularidade, a figura de Rafael Correa – que deixou uma economia nacional em recessão – acabou seriamente deteriorada, enquanto são destapados cada vez mais casos de corrupção entre os seus colaboradores mais próximos.

O último movimento tático do presidente Moreno foi convocar uma consulta popular sobre as sete propostas, entre as quais se destacam a anulação da emenda constitucional – realizada na última etapa correista – que permite a reeleição indefinida do presidente da República, buscando impossibilitar que Rafael Correa seja candidato presidencial nas próximas eleições; e a reestruturação do Conselho de Participação Cidadã e Controle Social – organismo estatal composto por personalidades ligadas ao ex-presidente – abrindo a possibilidade de avaliar o desempenho das autoridades em organismos de controle do Estado, e cessá-las. 

Se aprovadas essas reformas – e todas as sondagens de opinião pública até o momento assim o indicam – o correísmo sofrerá um esvaziamento completo de poder e se anularia qualquer possibilidade futura de uma rearticulação política desta tendência.

E o movimento dos setores correístas dentro da sua organização política, buscando a destituição e posterior expulsão de Lenin Moreno do partido, deve-se justamente à iniciativa do atual governo de levar a cabo tais reformas. Em paralelo, esta fração política está pressionando a Corte Constitucional – cuja composição vem do período anterior e tem afinidade com Correa –, a fim de fazer que tais questões não sejam viabilizadas. De igual maneira, os correístas na bancada oficialista buscam bloquear as iniciativas políticas provenientes do Executivo e o juízo político contra o encarcerado vice-presidente Jorge Glas.

Jogo de estratégias

Sem força política e apoiado somente por um setor de voto duro identificado com seus postulados, o qual se estima entre 20% e 23% do eleitorado, o correísmo é consciente de que o tempo joga contra.

O desenho estratégico do correísmo para tentar destituir Moreno consistia em gerar uma crise política dentro do partido Alianza País que desembocasse em uma convenção nacional extraordinária, a qual, com Rafael Correa à cabeça, permitisse recobrar as rendas do partido e sua hegemonia perdida na política nacional. Contudo, este movimento político criado apenas seis meses antes da sua primeira vitória eleitoral em 2006, e sem bases políticas naquele momento, se construiu verticalmente à sombra do poder, com quadros e caciques políticos de perfil arrivista e fortemente enraizado na tradicional política clientelista equatoriana, elementos que deixaram de ser funcionais ao correísmo uma vez que o ex-mandatário abandonou a poltrona presidencial.

Os resultados deste último pulso político foram devastadores para Rafael Correa: os morenistas anunciaram publicamente que 44 dos 75 congressistas que conformam a bancada oficialista na Assembleia Nacional se alinharam a Lenin Moreno, o que veio a significar que Correa perdeu o controle do Legislativo, enquanto que a maioria das direções provinciais do partido manifestaram rejeição à resolução da direção nacional e seu apoio a Lenin Moreno.

Pese tudo isto, Ricardo Patiño, principal operador político de Correa no país enquanto este segue residindo em Bruxelas, anunciou a pronta chegada do ex-mandatário a terras equatorianas, prevendo que os principais dirigentes correístas que participaram nesta movida podiam ser expulsos pela Comissão de Ética e Disciplina do Alianza País.

Se Rafael Correa volta nos próximos dias ao Equador possivelmente não será para reestabelecer sua liderança no partido que fundou – já que as trincheiras do correísmo no partido e em diferentes instituições têm ficado sumamente debilitadas – senão para liderar a conformação de uma nova organização política buscando confrontar politicamente com o atual governo e opondo-se à consulta popular.

Risco de desgaste

O presidente Moreno soube rentabilizar seu distanciamento de Correa, propondo a necessidade do diálogo e do consenso em uma sociedade que havia ficado fortemente polarizada, e levando a bandeira da luta contra a corrupção. Não obstante, a capacidade de execução política do governo foi limitada: ainda que não se saiba qual seja o caminhar desta legislatura. E ao se tratar de um presidente cuja popularidade se baseia unicamente no discurso, isto começa a gerar certas desconfianças na sociedade.

Por sua parte, tanto Rafael Correa como seus operadores no governo e na Alianza País buscam articular sua estratégia em torno do medo cidadão de uma possível volta do Equador ao passado, algo já utilizado em campanhas eleitorais, uma após a outra, durante a última década.

Trata-se de um argumento pouco consistente se levado em consideração que atualmente no Equador a oposição política a Alianza País não existe. Faz tempo que esta ficou sem espaço no tabuleiro da política nacional. De igual maneira, os movimentos sociais em geral, e indígenas em particular, também ficaram sem voz. Após dez anos de perseguições e criminalização do protesto social, estes movimentos se encontram atualmente imersos em negociações com um governo que ao menos se dispõe a escutá-los.

Assim, o panorama político para o médio prazo no Equador aponta como desolador. Enquanto a Alianza País se autodestrói, nem a oposição conservadora e nem a esquerda tradicional são capazes de posicionar alternativas com certa legitimidade social. A sua vez, o eleitorado é incapaz de distinguir entre as categorias políticas tradicionais de esquerda e de direita, pois logo de uma década de um discurso institucional revolucionário, adornado com velhas canções reivindicativas e alusões a múltiplos mitos revolucionários, resultou que os grupos economicamente mais beneficiados pelo regime foram os de sempre, enquanto a sociedade seguiu muito desequilibrada a favor dos historicamente privilegiados. Assim, denota-se um desinteresse crescente pela política tradicional em setores cada vez mais amplos da sociedade, nos quais a política não é mais discutida em termos de esquerdas e direitas.

Por outra parte, a incapacidade de renovação das lideranças históricas dos movimentos sociais equatorianos segue minando a possibilidade de novas formas de intervenção, a articulação de um discurso diferente e o reposicionamento do não institucional no âmbito da política, ficando esta última limitada às lutas de poder entre e dentro da estrutura partidária, que são disputadas sob o controle de instituições que não foram feitas para transformar a sociedade, senão para resistir às mudanças que a realidade demanda.

Não circulam novas ideias na política equatoriana, e não está sendo alimentada intelectualmente uma sociedade que busca, sem encontrar, estilos diferentes de exercer e atuar na política.

Com tais condições é fácil prever que, diante da ausência de alternativas com alguma credibilidade, se o atual governo não é capaz de concretizar políticas exitosas que dinamizem a economia nacional, gerem emprego digno e revitalizem a capacidade aquisitiva da grande maioria, o Equador estará imerso durante a atual gestão em uma nova crise de representatividade.


Decio Machado é sociólogo e consultor político residente no Equador
Artigo publicado em espanhol no semanário Brecha, do Uruguai.
Traduzido por Raphael Sanz, para o Correio da Cidadania.
Contudo, apenas umas horas depois, vários membros do gabinete presidencial e da burocracia da Alianza País rechaçariam publicamente tal decisão, definindo-a como arbitrária e antidemocrática. Diante da confusão generalizada da militância, simpatizantes e redes clientelistas do partido político hegemônico no Equador, o Tribunal de Garantias Penais deixou – de forma imediata – sem efeito a decisão adotada pela direção nacional do partido, proibindo o Conselho Nacional Eleitoral de inscrever o ex-ministro correísta Ricardo Patiño como novo presidente da Alianza País.

Origens da intentona

O enfrentamento entre correístas e morenistas dentro do partido governista tem sua origem praticamente no mesmo dia da posse do atual presidente, Lenin Moreno.

Isso apesar do fato de que Lenin Moreno foi parte do binômio presidencial de Rafael Correa nas eleições de 2006 e de 2009, exercendo durante ambas legislaturas como vice-presidente da República. Na atualidade, o ex-mandatário equatoriano é o principal opositor do seu governo. Na guerra de trincheiras dentro da Alianza País e nas distintas frentes institucionais, enquanto os partidários de Moreno traçaram uma política de reformas que levam consigo uma narrativa autocrítica a respeito de determinadas políticas públicas aplicadas durante a gestão anterior e a abertura de processos de investigação sobre distintos casos de corrupção institucional, os correístas tentam derrubar a figura do presidente posicionando-o como um traidor que se aliou com a direita.

Nesta disputa que vem ocorrendo nos pouco mais de seis meses de mandato de Moreno, o correísmo – ao menos até agora – aparece como claro perdedor. Enquanto o atual mandatário ostenta elevados índices de popularidade, a figura de Rafael Correa – que deixou uma economia nacional em recessão – acabou seriamente deteriorada, enquanto são destapados cada vez mais casos de corrupção entre os seus colaboradores mais próximos.

O último movimento tático do presidente Moreno foi convocar uma consulta popular sobre as sete propostas, entre as quais se destacam a anulação da emenda constitucional – realizada na última etapa correista – que permite a reeleição indefinida do presidente da República, buscando impossibilitar que Rafael Correa seja candidato presidencial nas próximas eleições; e a reestruturação do Conselho de Participação Cidadã e Controle Social – organismo estatal composto por personalidades ligadas ao ex-presidente – abrindo a possibilidade de avaliar o desempenho das autoridades em organismos de controle do Estado, e cessá-las. 

Se aprovadas essas reformas – e todas as sondagens de opinião pública até o momento assim o indicam – o correísmo sofrerá um esvaziamento completo de poder e se anularia qualquer possibilidade futura de uma rearticulação política desta tendência.

E o movimento dos setores correístas dentro da sua organização política, buscando a destituição e posterior expulsão de Lenin Moreno do partido, deve-se justamente à iniciativa do atual governo de levar a cabo tais reformas. Em paralelo, esta fração política está pressionando a Corte Constitucional – cuja composição vem do período anterior e tem afinidade com Correa –, a fim de fazer que tais questões não sejam viabilizadas. De igual maneira, os correístas na bancada oficialista buscam bloquear as iniciativas políticas provenientes do Executivo e o juízo político contra o encarcerado vice-presidente Jorge Glas.

Jogo de estratégias

Sem força política e apoiado somente por um setor de voto duro identificado com seus postulados, o qual se estima entre 20% e 23% do eleitorado, o correísmo é consciente de que o tempo joga contra.

O desenho estratégico do correísmo para tentar destituir Moreno consistia em gerar uma crise política dentro do partido Alianza País que desembocasse em uma convenção nacional extraordinária, a qual, com Rafael Correa à cabeça, permitisse recobrar as rendas do partido e sua hegemonia perdida na política nacional. Contudo, este movimento político criado apenas seis meses antes da sua primeira vitória eleitoral em 2006, e sem bases políticas naquele momento, se construiu verticalmente à sombra do poder, com quadros e caciques políticos de perfil arrivista e fortemente enraizado na tradicional política clientelista equatoriana, elementos que deixaram de ser funcionais ao correísmo uma vez que o ex-mandatário abandonou a poltrona presidencial.

Os resultados deste último pulso político foram devastadores para Rafael Correa: os morenistas anunciaram publicamente que 44 dos 75 congressistas que conformam a bancada oficialista na Assembleia Nacional se alinharam a Lenin Moreno, o que veio a significar que Correa perdeu o controle do Legislativo, enquanto que a maioria das direções provinciais do partido manifestaram rejeição à resolução da direção nacional e seu apoio a Lenin Moreno.

Pese tudo isto, Ricardo Patiño, principal operador político de Correa no país enquanto este segue residindo em Bruxelas, anunciou a pronta chegada do ex-mandatário a terras equatorianas, prevendo que os principais dirigentes correístas que participaram nesta movida podiam ser expulsos pela Comissão de Ética e Disciplina do Alianza País.

Se Rafael Correa volta nos próximos dias ao Equador possivelmente não será para reestabelecer sua liderança no partido que fundou – já que as trincheiras do correísmo no partido e em diferentes instituições têm ficado sumamente debilitadas – senão para liderar a conformação de uma nova organização política buscando confrontar politicamente com o atual governo e opondo-se à consulta popular.

Risco de desgaste

O presidente Moreno soube rentabilizar seu distanciamento de Correa, propondo a necessidade do diálogo e do consenso em uma sociedade que havia ficado fortemente polarizada, e levando a bandeira da luta contra a corrupção. Não obstante, a capacidade de execução política do governo foi limitada: ainda que não se saiba qual seja o caminhar desta legislatura. E ao se tratar de um presidente cuja popularidade se baseia unicamente no discurso, isto começa a gerar certas desconfianças na sociedade.

Por sua parte, tanto Rafael Correa como seus operadores no governo e na Alianza País buscam articular sua estratégia em torno do medo cidadão de uma possível volta do Equador ao passado, algo já utilizado em campanhas eleitorais, uma após a outra, durante a última década.

Trata-se de um argumento pouco consistente se levado em consideração que atualmente no Equador a oposição política a Alianza País não existe. Faz tempo que esta ficou sem espaço no tabuleiro da política nacional. De igual maneira, os movimentos sociais em geral, e indígenas em particular, também ficaram sem voz. Após dez anos de perseguições e criminalização do protesto social, estes movimentos se encontram atualmente imersos em negociações com um governo que ao menos se dispõe a escutá-los.

Assim, o panorama político para o médio prazo no Equador aponta como desolador. Enquanto a Alianza País se autodestrói, nem a oposição conservadora e nem a esquerda tradicional são capazes de posicionar alternativas com certa legitimidade social. A sua vez, o eleitorado é incapaz de distinguir entre as categorias políticas tradicionais de esquerda e de direita, pois logo de uma década de um discurso institucional revolucionário, adornado com velhas canções reivindicativas e alusões a múltiplos mitos revolucionários, resultou que os grupos economicamente mais beneficiados pelo regime foram os de sempre, enquanto a sociedade seguiu muito desequilibrada a favor dos historicamente privilegiados. Assim, denota-se um desinteresse crescente pela política tradicional em setores cada vez mais amplos da sociedade, nos quais a política não é mais discutida em termos de esquerdas e direitas.

Por outra parte, a incapacidade de renovação das lideranças históricas dos movimentos sociais equatorianos segue minando a possibilidade de novas formas de intervenção, a articulação de um discurso diferente e o reposicionamento do não institucional no âmbito da política, ficando esta última limitada às lutas de poder entre e dentro da estrutura partidária, que são disputadas sob o controle de instituições que não foram feitas para transformar a sociedade, senão para resistir às mudanças que a realidade demanda.

Não circulam novas ideias na política equatoriana, e não está sendo alimentada intelectualmente uma sociedade que busca, sem encontrar, estilos diferentes de exercer e atuar na política.

Com tais condições é fácil prever que, diante da ausência de alternativas com alguma credibilidade, se o atual governo não é capaz de concretizar políticas exitosas que dinamizem a economia nacional, gerem emprego digno e revitalizem a capacidade aquisitiva da grande maioria, o Equador estará imerso durante a atual gestão em uma nova crise de representatividade.

Leia também:

Lenín Moreno versus Rafael Correa: a nova disputa de poder no Equador

Vitória do correísmo não fará Equador escapar da regressiva dinâmica continental


Decio Machado é sociólogo e consultor político residente no Equador
Artigo publicado em espanhol no semanário Brecha, do Uruguai.
Traduzido por Raphael Sanz, para o Correio da Cidadania.

martes, 21 de noviembre de 2017

Retos ante la posverdad

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Por Decio Machado
Publicado en Revista Plan V / Ecuador

El mito de la caverna es una de las alegorías clásicas que recoge el libro La República (Politeia), la más conocida e influyente obra de Platón y que fue considerada por Cicerón como el primer libro de filosofía griega. A través de la ficticia descripción de unos hombres que desde su nacimiento permanecen encadenados en las profundidades de una caverna, los cuales carecen de posibilidad para mirar atrás y comprender cuál es el origen de sus cadenas, una pequeña hoguera permite reflejar a través del movimiento de su fuego sus siluetas sobre un muro mediante el cual atisban a ver, entre penumbras, esbozos de contornos de árboles, animales, montañas lejanas y personas que vienen y van.

Para Platón, esos hombres encadenados se parecen a nosotros, ya que ni ellos ni nosotros vemos más que esas sombras falaces que simulan una realidad engañosa y superficial fruto de una ficción proyectada por la luz de una hoguera que nos distrae de la realidad.

El mito de la caverna, entre otras cuestiones, asienta la idea de que existe una verdad independiente de las opiniones de los seres humanos y la existencia de permanentes engaños que nos hacen ubicarnos lejos de esta.

En Occidente tuvo que llegar el movimiento cultural e intelectual europeo llamado Ilustración, allá por el siglo XVIII, para que la fe, la tradición o la autoridad del emisor de una información dejaran de ser credenciales suficientes para que una definición de la realidad tuviera la calidad de hecho fehaciente e ingresara con éxito al debate público. El Siglo de las Luces fue el surgimiento de la edad de las ideologías, esas que hoy vuelven a ser nuevamente denostadas desde los sectores más reaccionarios de nuestras sociedades, momento en el que se emprende la movilización de las masas para proyectos públicos a través de la retórica del discurso racional. Sin perjuicio de su inevitable recurso a las emociones y los sentimientos, lo central pasó a ser que los llamados a la acción de las opciones políticas de derecha e izquierda se vieron obligadas a basarse sobre diagnósticos más o menos elaborados respecto al modelo de sociedad que defendían como sistema ideal para la convivencia común.

Algo más de dos siglos después todo ese andamiaje racional está quedando hecho trizas. Explicar el porqué de este hecho tiene que ver con realidades tales como que el racionalismo en nuestros países nunca dejó de ser elitista, liberal y no democrático, quedando la participación política en manos de esa “gente experta que sí sabe”. Fruto de lo anterior, lamentablemente hoy resuena con mayor fuerza que nunca la idea nietcheriana de que las pasiones, los intereses y los instintos son dimensiones de la vida humana más básicas que la razón para motivar nuestra creencias. Sería Antonio Damásio, un médico neurólogo de origen portugués precursor de la neurociencia, quien nos diría que Descartes se equivocó, pues no es “pienso, luego existo”, sino “siento, luego existo” el quid de la cuestión.

El protagonismo actual de la política de la posverdad, eufemismo que busca sustituir el término de “mentira emotiva” por uno más afable, está vinculado a varios elementos clave: la crisis actual del capitalismo, el cual fruto de un proceso de acumulación salvaje, está haciendo que entre las grandes mayorías la desigualdad y la incertidumbre respecto al futuro sean los grandes fantasmas que hoy recorren el mundo; el desarrollo acelerado de las nuevas tecnologías de información y comunicación, las cuales en su versión negativa están permitiendo que en las redes sociales se transformen en una formidable herramienta para la transmisión de falsedades; la más que justificada perdida de autoridad de los medios de comunicación, los cuales históricamente fueron el eje discriminador entre la verdad de la mentira; y la expansión del anti-intelectualismo a nivel global, lo que se da de forma sorprendente en el marco de una sociedad a la que llaman del conocimiento.

Es así que en el mundo de la posverdad, ese mundo en el que los hechos objetivos tienen menos influencia que las apelaciones a las emociones y a las creencias personales, algo que aparenta ser verdad se convierte en un elemento más importante que la propia verdad para el común de los mortales.

Si bien la negación de los hechos y el engaño no son nada nuevo en la política, en 1986 Ronald Reagan admitió que había intercambiado armas por rehenes con Irán tras haber negado mil veces en los meses anteriores ese hecho, actualmente la expresión “noticias falsas” se ha convertido en un elemento ubicuo hasta el punto de que se utiliza de forma acusatoria para denunciar o menospreciar cualquier hecho incómodo. En 1992 el dramaturgo serbio-americano Steve Tesich escribió un ensayo publicado en The Nation donde se indicaba, tras las revelaciones del caso Watergate y las atrocidades realizadas por el ejército estadounidense en Vietnam, que la sociedad norteamericana había asumido una postura despectiva respecto a las verdades incómodas: “llegamos a equiparar la verdad con las malas noticias (…) pedimos a nuestro gobierno para que nos proteja de la verdad”.

El ejemplo actual más palpable de política de la posverdad se evidencia en la figura del actual presidente estadounidense Donald Trump, quien durante su campaña electoral etiquetó con éxito en sus redes sociales noticias reales y verificadas con noticias falsas por forma claramente intencional, algo que hasta no hace mucho tiempo era moralmente inaceptable.

En Ecuador, como siempre algo más tarde, también llegó la política de la posverdad. Es así que durante el régimen anterior asistimos a un amplio abanico de mentiras, las cuales abarcaron desde como el país había entrado en la carrera espacial hasta como caminábamos hacia el competir con las mejores universidades del mundo, todo ello sin olvidar la execrable parodia económica sobre el jaguar latinoamericano. Por otro lado y entiendo que el control de la información es poder, asistimos de igual manera a como desde el poder político se articuló una batalla sin cuartel contra unos medios de comunicación que tampoco es que fueran baluartes de transparencia y profesionalidad informativa, generándose en los medios públicas una copia del mismo malhacer tendencioso informativo existente en los medios privados.

Como toda acción conlleva reacción y pese a que los blogs no convencionales de información periodística personifican la democratización de los medios, la llegada de la posverdad generó múltiples plataformas internautas que muestran la cara más aterradora de la intoxicación informativa: noticias falsas, información manipulada y tendenciosas sobre los procesos de investigación respecto a casos de corrupción, acusaciones no comprobadas sobre políticos de uno y otro lado, así como aseveraciones tendenciosas y mal intencionadas sobre personalidades e instituciones públicas. Todo ello posicionado sin pudor a través de múltiples estrategias de viralización en redes sociales.

Así las cosas, la mala información -en el contexto de la lucha por el poder- nos están metiendo en la mayor crisis moral de nuestro tiempo. La abundancia de noticias falsas en la era de la posverdad, tanto en Ecuador como el conjunto del planeta, suponen un daño irreparable a los fundamentos del orden democrático, y es por ello que algunos autores ya están hablando de un nuevo momento post-democrático. Mientras se agudizan las polarizaciones, se corrompe la integridad intelectual y se daña el ya más que deteriorado tejido democrático global, van articulándose campañas de odio regionales como la conocida “Con mis hijos no te metas”, basadas en atropellar los derechos de los demás bajo estrategias de posverdad, a la par que se posicionan nuevas figuras políticas con aspiraciones presidenciales de perfil protofascista como la de Jair Bolsonaro en Brasil.

Ante tal situación, tanto gobiernos como empresas tecnológicas deben enfrentar nuevos retos destinados a generar herramientas tecnológicas mejoradas que permitan comprobar los hechos e informaciones que son posicionados en Internet. Un ejemplo de esto es el incipiente proyecto PHEME, en el que participan varias universidades y empresas europeas, mediante el cual se busca desarrollar un software que sirva como detector de mentiras en tiempo real en las redes sociales.

Por otro lado, se hace cada vez más necesario una mayor presencia pública de la comunidad científica y más diálogo entre el ámbito del conocimiento y los responsables de elaborar políticas públicas, intentando evitar así que la retórica sin fundamento se imponga a los hechos.

En ambos casos, se trata de articular medidas que surgiendo desde la sociedad misma se impongan sobre las iniciativas articuladas desde los estados basadas en el control de la información, siendo conscientes del especial interés por parte de los gobiernos de mantener el poder estableciendo mecanismos de censura y el bloqueo de páginas web.

lunes, 13 de noviembre de 2017

Decio Machado: "El crecimiento chino ha permitido globalmente reducir la pobreza pero ha incrementado el deterioro ambiental"


Entrevista a Decio Machado, experto en geopolítica y director ejecutivo de la Fundación ALDHEA.

Groen Guerrero Magazine

¿Cuál es tu valoración del XIX Congreso del Partido Comunista chino?

Básicamente hemos asistimos al reforzamiento del poder omnímodo del presidente de la República Popular de China, Xi Jinping, quien durante su gestión anterior ya se había encargado de anular cualquier posibilidad de incidencia de facciones rivales en la postulación de miembros en los órganos de dirección del PCCh. De esta manera Xi concentra aún los poderes en torno a su persona y mantiene la lógica de formentar el culto a su persona.

El reconocimiento por parte de la burocracia china de sus tesis sobre el socialismo chino con características particulares para una nueva era, lo cual ha pasado a formar parte del fundamento ideológico del partido más grande del mundo, posiciona su figura al mismo nivel que la de líderes históricos como Mao o Deng.

Tal y como ha quedado compuesto el Comité Permanente del Buró Político del PCCh, verdadero centro de poder en China, es muy posible que asistamos a su reelección para un tercer período en 2022. Esto sería algo inédito en la historia del partido desde el fallecimiento de Deng Xiaoping en febrero de 1997.

¿Cuáles son los aspectos políticos más importantes a reseñar durante el dicho Congreso?

Asistimos a un congreso marcado por la continuidad política en lo que ha sido la gestión de la burocracia china durante estos últimos cinco años. Se mantendrán las lógicas de paulatina apertura de la economía china bajo control del partido, se seguirá apostando por el desarrollo interno de nuevas tecnologías y la innovación en materia productiva y militar, así como se impulsaran lentas reformas destinadas a volver a atraer capitales hacia el gigante asiático. En este sentido es importante reseñar que la Inversión Extranjera Directa que llega a China es cada vez menor en relación al PIB del país, un porcentaje que se ha reducido a mitad en los últimos veinte años.

Desde tu punto de vista ¿cuáles son las causas de que se haya ralentizado el crecimiento de la economía china?

Al igual que muchas otras economías emergentes, aunque en este caso de forma sobredimensionada, China prosperó de manera clásica. Se construyeron carreteras para unir las fábricas a las instalaciones portuarias, se desarrollaron redes de telecomunicaciones buscando conectar unos centros de negocios con otros y se ofrecieron mejores remuneraciones en fábricas urbanas para su histórico campesinado. Sin embargo, hace años ya que la economía china alcanzó su punto de inflexión. La mano de obra procedente de las zonas rurales ya no es tan disponible como antaño y en empleo en fábricas alcanzó su máxima capacidad, de igual manera la inversión en infraestructura ya es muy considerable, a la par que la tendencia demográfica se ha invertido y ahora el Estado tiene que afrontar un reto para ellos insólito, la necesidad de cubrir dignamente las necesidades de su clase social pensionista.

El camino más probable para la China actual es el que siguió Japón a principios de la década de 1970, cuando su economía aún en auge desde el fin de la Segunda Gran Guerra se ralentizó sustancialmente pero continuó creciendo a un ritmo respetable. Hablamos de algo natural en cualquier economía “milagro”. China puede ser Japón tres décadas más tarde y diez veces más grande, lo cual como podemos apreciar en la actualidad tiene serias implicaciones para la economía global.

¿Ha sido beneficioso el crecimiento chino para el conjunto del planeta?

Digamos que el fin del ciclo de crecimiento chino en dos dígitos conlleva un análisis aun muy embrionario por parte de los académicos expertos en materia de desarrollo. En todo caso, me atrevo a afirmar que sin el desarrollo chino y sus implicaciones en materia comercial con el Sur Global no se habría asistido al nivel de reducción de la pobreza que hemos vivido durante la primera década y media de este siglo, pero por otro lado, la capacidad de fagocitación china de los recursos naturales globales ha sido también motor de la aceleración de las amenazas de destrucción ambiental y calentamiento global en las que estamos inmersos.

¿Es estable la economía china?

Buscar la estabilidad de su economía nacional es uno de los ejes principales abordados en este último congreso del PCCh. Dando respuesta a tu pregunta, considero que la economía china es relativamente estable, ha mostrado signos de reconducción positiva durante la gestión de Xi Jinping, sin embargo es una realidad que existe el riesgo de que pueda estallar una burbuja crediticia e inmobiliaria. Mientras los préstamos sigan acelerándose más que el PIB, es difícil afirmar que la economía china haya establecido una verdadera base para la estabilidad financiera.

Más allá de la planificación del Estado, el alto endeudamiento privado que enfrenta China es un grave problema, aunque se vea amortiguado por el hecho de que éste se desarrolle en su propia moneda. Cabe señalar que la “banca en la sombra” existente en China, más de seis bancos subterráneos que operan en los trasfondos de la economía oficial y de los cuales es imposible disponer de balances, suponen un volumen de riesgo cinco veces superior al que tenía Estados Unidos antes de la crisis subprime.

Xi Jinping expuso en su discurso inaugural que durante los últimos cinco años, esos coincidentes con su mandato al frente del PCCh, 60 millones de personas salieron de la pobreza. ¿Cuál es tu opinión?

Los ingresos per cápita de la población china están actualmente por encima de los 8.000 dólares y en progresión ascendente. Comparado con otros países que alto crecimiento económico como la India, el desarrollo chino ha permitido un nivel de mejoras económicas y sociales muy importante para su población. Sin embargo, lo que Xi no dijo en su conferencia es que el 1 por ciento de la población china controla un tercio de la riqueza nacional mientras el 25 por ciento más humilde tan sólo suma el 1 por ciento de esta riqueza. En pocas palabras, China es uno de los países más desiguales del planeta, lo cual pese al control político e informativo del PCCh sobre su población, significará a la postre un problema de desestabilización política.

Para terminar, ¿cómo ves el nuevo rol de China en el ámbito global?

Tras criticar solapadamente el nuevo aislacionismo propuesto por Donald Trump para los Estados Unidos, Xi en este congreso llamó textualmente a que China “tome el control del escenario mundial”. Esto en los países latinoamericanos ya es un hecho, dado que el nivel de inversiones chinas en el subcontinente se ha incrementado durante estos más de cuatro años ya de gestión presidencial de Xi Jinping. Los créditos atados provenientes del gigante asiático están significando también un alto nivel de implicación de empresas chinas en las economías nacionales latinoamericanas, hecho sobre el cual no voy a hacer una valoración en este momento.

Pero más allá de nuestra realidad local, es evidente que durante estos últimos cinco años ha habido cambios importantes respecto al papel de China en el concierto internacional. China ha pasado a liderar, al menos de palabra, la lucha internacional contra el cambio climático; es en estos momentos el mayor defensor planetario de la globalización económico capitalista; está reconfigurando el orden global y los espacios de atracción de inversiones a través del mega proyecto Nueva Ruta de la Seda y ha creado el Banco Asiático de Inversiones en Infraestructuras para remodelar el viejo orden internacional sostenido tras la Segunda Guerra Mundial bajo la batuta de la instituciones de Bretton Woods. Estamos ante un nuevo mundo donde la visión del poder global conlleva ojos rasgados.