lunes, 30 de enero de 2017

O cenário político e econômico e os rumos da América Latina

Entrevista a Decio Machado

Por: João Flores da Cunha | Tradução: Juan Luis Hermida
http://www.ihu.unisinos.br/564418-o-cenario-politico-e-economico-e-os-rumos-da-america-latina-entrevista-especial-com-decio-machado

O fim do boom das exportações de commodities alterou o cenário na América Latina e inaugurou um período de incertezas. Em entrevista concedida por e-mail para a IHU On-line, o pesquisador Decio Machado aborda o panorama político e econômico da região e o cenário conjuntural do Equador, cuja população irá às urnas no dia 19-02 para escolher o sucessor de Rafael Correa na presidência do país.

Ele alertou que “os lucros derivados do auge do preço das commodities durante os anos anteriores já desapareceram” e “o crescimento da dívida externa volta a ser uma realidade inquietante”. Analisando o ciclo dos governos progressistas na América Latina, afirmou que o “déficit [desses governos] no que diz respeito à falta de mudanças estruturais em nossas respectivas economias nacionais advém do fato de que combinaram sua radicalidade discursiva com a convivência junto ao poder das elites econômicas que historicamente dominaram nossos países”.

Machado tece críticas ao modelo de desenvolvimento baseado na exportação de matérias-primas, e defende que esse seja superado. Para ele, “temos de superar o falso dilema ‘extrativismo ou pobreza’” implementado na América Latina, e “não deixa de causar rubor que o planejamento estratégico dos governos latino-americanos para superar o extrativismo esteja baseado em implementar cada vez mais extrativismo”.

O pesquisador abordou as relações econômicas da região com a China, e afirmou que “se a América Latina, apesar da assimetria existente na sua relação comercial com a China, quer seguir sendo competitiva ante esse país, está obrigada a diversificar e modernizar a sua estrutura produtiva”. Para ele, as medidas protecionistas que devem ser implementadas pelo governo de Donald Trump nos Estados Unidos irão causar um “aprofundamento ainda maior das relações comerciais, econômicas e militares que já vêm se estabelecendo entre a América Latina e a zona Ásia-Pacifico”.


Decio Machado (Foto: Arquivo pessoal)

Decio Machado é consultor internacional em Políticas Públicas, Análise Estratégica e Comunicação. Pesquisador associado em Sistemas Integrados de Análise Socioeconômica e diretor da Fundação Alternativas Latino-americanas de Desenvolvimento Humano e Estudos Antropológicos (ALDHEA). É membro da EQUIPE fundadora do periódico Diagonal, assim como colaborador habitual em diversos meios de comunicação na América Latina e na Europa.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Qual é o atual cenário político e econômico no Equador?

Decio Machado – O país vive um momento de transição política. Depois de dez anos de mandato, Rafael Correa abandonará seu cargo no próximo dia 24-05, data na qual será investido o próximo presidente da República do Equador. Além de quem ganhe as eleições do dia 19-2, isto significará uma mudança na política institucional do país, pois o correísmo, para o bem ou para o mal, na prática se transformou em uma proposta de concentração de poderes em torno de um líder carismático que dificilmente terá continuidade sem a sua presença no Palácio de Carondelet.

Com respeito à economia, depois de um prolongado período de bonança derivado do chamado “boom das commodities” o país tem sido fortemente golpeado pela queda do preço do petróleo, a apreciação do dólar e o encarecimento do financiamento externo. A soma dessas circunstâncias fez com que a economia equatoriana feche o ano de 2016 com uma contração de 1,7%, enquanto o déficit fiscal tem sem mantido embora a dívida pública (interna e externa) tenha se incrementado notavelmente. Indicadores sociais positivos alcançados durante grande parte do período correísta no âmbito da luta contra a pobreza, a diminuição do desemprego, as melhorias nas condições laborais dos trabalhadores, e o crescimento da capacidade aquisitiva da população, encontram-se neste momento em franca deterioração.

IHU On-Line – Como você define o governo de Rafael Correa? Qual é o legado do seu governo?

Decio Machado – Considero que quem melhor definiu este período foi o próprio presidente Rafael Correa quando disse aquilo de que “basicamente estamos fazendo melhor as coisas com o mesmo modelo de acumulação”. Na pratica, trata-se de um governo que impulsionou a modernização do sistema capitalista no Equador por meio do fortalecimento do papel do Estado. Para isso foram impulsionadas políticas sociais compensatórias que foram o eixo dessa nova governabilidade, ao mesmo tempo em que se exacerbou o modelo de exploração extrativista de recursos naturais e se fomentou amplamente a construção de obras de infraestrutura no país.

O seu legado combina a estabilização política com o desenvolvimento de um modelo de Estado-controle, o que implica a desarticulação e neutralização do tecido social organizado que antigamente tinha sido protagonista de grandes lutas sociais. Para isso, o correísmo se empenhou em controlar a vida coletiva a partir do aparato do Estado por meio da judicialização do protesto social. Desde essa perspectiva, o regime correísta é altamente involucionista, pois entende o Estado-nação como limite do pensamento e das práticas emancipatórias dos distintos povos e nacionalidades que formam o Equador.

Na atualidade, com a chegada da crise econômica fruto do fim da “década dourada das commodities”, ficou evidente que aquilo que foi construído em matéria de melhoramento dos indicadores sociais ao longo desse período tem pilares frágeis demais. Isso nos faz refletir sobre o fato de que não é possível melhorar estruturalmente a situação dos pobres sem tocar nos privilégios das elites econômicas e dos grandes grupos de poder.

O que foi construído em matéria de melhoramento dos indicadores sociais ao longo da década das commodities tem pilares frágeis demais

IHU On-Line – Qual é a sua expectativa para as eleições presidenciais? Você acredita que Lenín Moreno será eleito?

Decio Machado – O fato de que Rafael Correa não está na cédula de votação, somado a que o país se encontra numa recessão econômica, gerou amplas expectativas nos setores de oposição ao regime. No entanto, foram os próprios erros deles que os levaram a se situar em condições desfavoráveis durante esta contenda eleitoral.

No âmbito conservador, a rivalidade entre distintas facções da direita não permitiu que apresentassem uma candidatura de unidade frente ao regime; e no caso das dissidências pela esquerda ao correísmo, àqueles que sim conseguiram se unificar em torno de uma candidatura presidencial comum faltou o valor para desenvolver um programa de ruptura que fosse além da pregação sobre a recuperação da democracia e das liberdades.

O discurso das diversas candidaturas de oposição, independentemente de sua sensibilidade política, acabou convergindo numa narrativa comum que se baseia na má gestão econômica do regime durante os últimos anos e a corrupção institucional que existe, fazendo muito difícil distinguir suas diferentes propostas programáticas ante a cidadania.

Por sua parte, a campanha eleitoral do oficialismo está baseada em evidenciar a obra pública e o investimento social realizados durante esta década, posicionando o seu candidato presidencial como mudança de estilo na hora de governar dentro da continuidade do regime.

As pesquisas sérias sobre a intenção de voto no Equador indicam que o partido oficial abaixa a sua intenção de voto em função de que vêm aparecendo diferentes escândalos de corrupção durante o mandato do presidente Correa, enquanto os partidos de oposição não crescem na mesma proporção. Enquanto a Aliança PAÍS [partido de Rafael Correa e Lenín Moreno] mantenha uma vantagem superior a 10 pontos percentuais sobre seus diferentes rivais eleitorais, a disputa está em que a candidatura de Lenín Moreno obtenha 40% dos votos válidos para ganhar no primeiro turno. Se não for assim, quer dizer, no caso de que exista um segundo turno, a coisa poderia se complicar para o partido governista, dado que estaríamos em um cenário de rearticulação de alianças entre as forças opositoras.

IHU On-Line – Do ponto de vista da esquerda, quem é o melhor candidato para a presidência do Equador?

Decio Machado – Eu considero que se alguma coisa as esquerdas temos que aprender deste período definido como “ciclo progressista” na América Latina é que, mais além de que com determinadas políticas sociais se melhore de maneira conjuntural os números da desigualdade, são necessárias políticas reais de redistribuição da riqueza que transformem o modelo de acumulação desigual herdado do neoliberalismo.

O déficit dos governos progressistas no que diz respeito à falta de mudanças estruturais em nossas respectivas economias nacionais advém do fato de que combinaram sua radicalidade discursiva com a convivência junto ao poder das elites econômicas que historicamente dominaram nossos países. Isso implicou que a crise hegemônica neoliberal derivasse em um modelo pós-neoliberal carente de projeto anticapitalista.

Voltando ao caso equatoriano, não vejo na candidatura presidencial governista nem na candidatura aglutinadora das esquerdas dissidentes do correísmo nenhuma reflexão a esse respeito. Não encontro nem em um nem no outro programa a capacidade de imaginar o fim da depredação capitalista.

IHU On-Line – No Equador, Correa teve desgastes por conta do fracasso da iniciativa Yasuní-ITT. Na Bolívia, o presidente Evo Morales teve problemas por causa do projeto da estrada no Parque Tipnis. Como você vê a relação entre esses governos e os movimentos sociais e indígenas desses países?

Decio Machado – O problema de fundo entre os chamados governos progressistas e os movimentos sociais é que nesses países tem sido registrado um aumento da repressão contra os protestos sociais. Tanto no Equador como na Bolívia temos visto como se adotaram medidas administrativas contrárias às organizações sociais que explicitaram sua rejeição ao modelo extrativista, ao mesmo tempo que se aplicaram lógicas de criminalização dos protestos sociais sobre líderes comunitários, organizações de mulheres e comunidades indígenas em resistência.

Esses fatos são um reflexo da involução desses processos políticos, em que a dissidência social foi acusada de rebelião, sabotagem e inclusive de terrorismo. Assistimos a nível planetário a implementação de uma nova tecnologia de poder por parte dos Estados, e para isso é preciso colocar em andamento medidas de disciplinamento que normalizem a sociedade e descomponham seus indivíduos, fixando procedimento de adestramento progressivo e controle permanente sobre a sociedade civil. O que surpreende no caso dos países progressistas é que ditas políticas sejam assumidas com naturalidade por parte dos governos que dizem falar em nome de seus povos e movimentos sociais.

IHU On-Line – O desenvolvimento econômico da América Latina nos anos recentes foi em grande parte impulsionado pela exportação de commodities. Quais são os impactos desse modelo extrativista para os países do continente?

Decio Machado – Durante esta última década e meia o modelo de desenvolvimento latino-americano aprofundou a sua inserção internacional dependente como provedor de matérias primas. Isto implicou numa maior vulnerabilidade dessas economias, subordinando-as às flutuações erráticas dos mercados globais.

Além disso, o impacto ambiental é inquestionável no âmbito do desmatamento, da contaminação e da deterioração da saúde pública nos territórios afetados. Semelhante também é o impacto na política, motivo pelo qual não é casualidade que em todos os países sul-americanos tenham sido identificados casos de corrupção vinculados à gestão de setores estratégicos e empresas extrativistas.

Junto a todo o anterior vem um processo de aceleração de lógicas vinculadas à acumulação por desapropriação, produzindo desalojamentos, transformação violenta das formas tradicionais de vida nas comunidades diretamente afetadas, deslocamentos de setores campesinos e indígenas de seus territórios históricos, militarização, criminalização dos protestos sociais, violência estatal e paraestatal.

Extrativismo

Os defensores do extrativismo entendem esse modelo como um mecanismo para capitalizar o Estado, para posteriormente implementar políticas destinadas à transformação da matriz produtiva e impulsionar o desenvolvimento endógeno nos seus respectivos países. No entanto, esses processos extrativistas se caracterizam por serem economias de enclave, não geram atividades econômicas novas através do encadeamento produtivo e nem se integram no mercado laboral, orientando a exploração de recursos naturais no sentido das necessidades do mercado global. Em todo caso, não deixa de causar rubor que o planejamento estratégico dos governos latino-americanos para superar o extrativismo esteja baseado em implementar cada vez mais extrativismo.

IHU On-Line – Você acredita que é possível reverter 500 anos de colonialismo e extrativismo na America Latina? Existe alguma alternativa para este modelo?

Decio Machado – Como falei anteriormente, a superação do modelo primário exportador no subcontinente baseia sua urgência em questões de índole econômicas, políticas, ambientais e inclusive de saúde democrática. Para isso temos de superar o falso dilema “extrativismo ou pobreza” implementado pelos governos latino-americanos e especialmente pelos que tomam a bandeira de progressistas.

Para isso é necessário gerar uma série de medidas que seriam complexas de desenvolver na sua integridade durante esta entrevista, mas sobre as quais vou apontar algumas ideias gerais já esboçadas por outros autores: frente à reprimarização das economias latino-americanas é urgente pôr em andamento medidas eficazes focadas na diversificação da produção nacional e incorporar o valor interno do retorno; o processo de integração regional, hoje paralisado, deve ser a base para a busca de complementaridades econômicas entre os países da região, reduzindo dependência em relação aos mercados do norte; os países latino-americanos devem buscar um novo perfil de especialização que lhes permita outra forma de inserção no mercado global; é necessário gerar políticas econômicas eficientes no âmbito da cadeia de produção, fiscal e de demanda; e por último devemos, sob um critério de sustentabilidade planetária, harmonizar economia e sociedade com a natureza sob os princípios do Bem Viver, passando do antropocentrismo ao biopluralismo.

Estamos obrigados, pelo bem comum e pela sobrevivência planetária, a mudar o atual paradigma civilizatório.

IHU On-Line – No âmbito desse modelo econômico extrativista, como você vê a relação da América Latina com a China? Você diria que a economia latino-americana depende das matérias primas que exporta para China?

Decio Machado – Os principais beneficiários do auge do comércio entre a China e a América Latina têm sido os exportadores de matérias-primas. Veja que durante o período compreendido entre 2001 e 2010 as exportações dos produtos de mineração e combustíveis fósseis para a China cresceram em um ritmo de 16% ao ano. Tirando o México, as cinco principais exportações de bens primários de todos os países da região representam no mínimo 80% do valor total das exportações para a China, sendo as matérias-primas seu eixo motor. Isto fez com que a região sofresse uma forte reprimarização das suas economias.

Porém, na atualidade a China está passando por um programa de reajuste do seu modelo de desenvolvimento para algo que pretende ser mais sustentável no futuro. Isso implicará em um menor dinamismo no seu crescimento econômico e em uma maior dependência do seu consumo interno, junto ao impulso das indústrias com maior valor agregado e serviços.

Projeções

Voltando ao expressado na pergunta anterior, se a América Latina, apesar da assimetria existente na sua relação comercial com a China, quer seguir sendo competitiva ante esse país, está obrigada a diversificar e modernizar a sua estrutura produtiva. Segundo projeções da CEPAL pertencentes ao âmbito das reformas que estão tendo lugar na China na atualidade, em 2030 o crescimento médio das exportações latino-americanas de metais e minerais para esse país poderia cair dos 16% na década anterior aos 4%, e os mesmos indicadores de redução são previstos no caso dos combustíveis.

Porém, a China terá em 2030 uma cifra superior a 1,4 bilhões de habitantes. Enquanto a população chinesa equivale a 19% da população global, o país dispõe tão somente de 7% da terra cultivável e de 6% das reservas hídricas mundiais. Com base na recomposição do consumo que se está dando na China (cai a demanda de arroz e trigo enquanto aumenta o consumo de açúcar e carne de vitela), a América Latina deveria estar desenhando políticas proativas de desenvolvimento produtivo nesses setores, potencializando a associatividade dos pequenos produtores e cooperativas para que tenham um papel destacado na exportação de produtos agropecuários, com um modelo de produção respeitoso com o entorno natural e com políticas de dignificação do emprego e dos salários.

Turismo

Para dar apenas outro exemplo, no caso do turismo, em que a China tem se convertido em um grande mercado exportador de visitantes ao Exterior, a situação da América Latina também continua sendo marginal sem que estes governos tenham até o momento a capacidade de mudar substancialmente esta realidade. Os gastos dos turistas chineses no exterior foram no ano de 2015 de 215 bilhões de dólares, 53% a mais que no ano anterior. No entanto, destes mais de 120 milhões de embarques internacionais protagonizados pela população chinesa, tão somente 0,7% chega à América Latina, hospedando-se além de tudo em instalações cuja propriedade é de grandes holdings hoteleiros internacionais, no lugar de potencializar o turismo comunitário, a economia social e solidária, assim como as economias dos habitantes das localidades afetadas.

IHU On-Line – Como você vê as perspectivas econômicas para a América Latina? As projeções do FMI e do Banco Mundial indicam um baixo crescimento em 2017.

Decio Machado – Como já demonstrou Thomas Piketty, desde 1700 até 2012 a economia mundial cresceu em média 1,6% ao ano, enquanto a taxa de retorno do capital esteve entre 4 e 5%, o que implica que a riqueza global terminou em pouquíssimas mãos – e no caso da América Latina estes indicadores foram de ainda maior concentração.

Apesar da redução dos indicadores de pobreza a que temos assistido durante os últimos anos na região, fruto da não intervenção nos pilares estruturais da desigualdade, na América Latina hoje os 10% mais ricos da população concentram 71% da riqueza regional. O próprio Banco Mundial tem relatórios nos quais se indicam que se essa tendência continuar, em menos de dez anos, o 1% mais rico da região terá mais riqueza que o 99% restante.

Desde essa perspectiva, o problema não é tanto o indicador de crescimento prognosticado pelas instituições de Bretton Woods, mas como é repartida a riqueza em nossa região. É um fato que os lucros derivados do auge do preço das commodities durante os anos anteriores já desapareceram e que o crescimento da dívida externa volta a ser uma realidade inquietante sem que por isso se estejam aplicando políticas fiscais claramente progressivas que busquem modelos comprometidos com a igualdade social.

Desigualdade

Isso não significa deixar de reconhecer que estamos ante a primeira recessão bianual em mais de três décadas na região, o que implica também o risco de que parte dos setores que se incorporaram às classes médias nesses últimos anos possam reverter a sua condição em um futuro imediato. Segundo a CEPAL, já em 2015 se incrementou em sete milhões de pessoas o número de pobres na América Latina, o que representa um retrocesso sobre os indicadores de diminuição da pobreza obtidos no período imediatamente anterior.

Mas falemos claramente: apesar de tudo aquilo explicitado anteriormente, os governos da América Latina e entre eles também os de perfil progressista, seguem outorgando um tratamento favorável às companhias multinacionais em matéria fiscal. Um estudo recente realizado pela Oxfam revela que a carga impositiva para as empresas nacionais latino-americanas equivale ao dobro da carga efetiva suportada pelas companhias transnacionais, o que não pode fazer-nos sentir mais do que vergonha em uma região que é considerada como a mais desigual do planeta.

Os governos da América Latina seguem outorgando um tratamento favorável às companhias multinacionais

IHU On-Line – Quais são as perspectivas para a América Latina no governo Trump, e para o México em especial?

Decio Machado – Nem na sua campanha eleitoral nem no seu discurso de posse Donald Trump deu maior importância à América Latina. Para além das especulações, no que se refere ao subcontinente existem tão somente dois anúncios claros: a ratificada proposta de ampliar o muro já existente na fronteira sul estadunidense e a renegociação do Tratado de Comércio da América do Norte (TLCAN) que teria um impacto sobre o México, assim como a vontade de “dar marcha a ré” nas medidas de normalização das relações diplomáticas com Cuba impulsionadas pelo governo Obama.

Começando pelo México, cabe indicar que os problemas da sua economia nacional vêm de antes, e são fruto de uma moeda que se desvalorizou mais de 50% nos últimos anos, de uma inflação crescente por conta dos aumentos da gasolina e da energia elétrica, de uma dívida pública que chega já a 48% do PIB e de uma série de periódicos cortes do gasto público que diminuíram a capacidade aquisitiva da sua população. Para além do anterior, o “efeito Trump” está fazendo com que os cinco setores que concentram 60% do PIB mexicano (manufatura, comércio, setores imobiliários, construção e mineração) estejam registrando uma importante desaceleração em relação ao último ano. A instabilidade econômica que o país atravessa está provocando a fuga de capitais, há o risco de suas exportações para os Estados Unidos sofrerem uma taxação de 35% e a indústria maquiladora que se situa na fronteira poderia inclusive chegar a desaparecer.

Parte do que sucede hoje no México é consequência de que o país foi incapaz de diversificar suas exportações, fato que determina que 80% delas tenham como destino os Estados Unidos. Entendo que, na atual conjuntura, o governo mexicano está obrigado a modificar essa realidade e reposicionar com urgência o seu olhar sobre o mercado asiático. Apesar da importância adquirida pela China na região, as vendas de produtos mexicanos para esse país não somaram mais que 1,5% do total das suas exportações durante o ano passado.

A respeito de Cuba, os benefícios econômicos que a normalização das relações diplomáticas com os Estados Unidos trouxe para a ilha são evidentes e agora poderiam estar também em risco. Em um momento no qual as economias dos países solidários com o povo cubano, como é o caso da Venezuela, estão se deteriorando, Cuba alcançou no ano passado a cifra recorde de quatro milhões de turistas. Isso implica num crescimento de 13% do setor turístico cubano com respeito ao ano anterior (segunda fonte de ingressos do país) e isso tem muito a ver com que o número de visitantes estadunidenses tenha aumentado em 80%.

IHU On-Line – Como as eventuais mudanças geopolíticas geradas pela eleição de Trump podem impactar a América Latina? No caso de se concretizar um cenário de maior proximidade entre os Estados Unidos e a Rússia, o que isso significaria para o nosso continente?

Decio Machado – As lógicas protecionistas que foram o eixo fundamental do discurso de campanha do hoje já presidente Donald Trump pressupõem um cenário no qual o acesso dos produtos de exportação latino-americanos para o mercado estadunidense possivelmente caia de forma notável. Isso implicará num aprofundamento ainda maior das relações comerciais, econômicas e militares que já vêm se estabelecendo entre a América Latina e a zona Ásia-Pacifico. Não acho que a coisa vá para além disso, dado que considero que a centralidade geopolítica que em algum momento chegou a ter a América Latina tem se deslocado nos últimos anos para outras zonas do planeta.

Com relação à sua segunda pergunta, considero que o surpreendente novo marco de relações entre os Estados Unidos e a Rússia não gerará tampouco grandes mudanças na nossa região. O interesse principal da Rússia – verdadeira vencedora das eleições estadunidenses – está nas zonas geográficas que correspondem às repúblicas que outrora formaram parte da extinta União Soviética, nas rotas de gasodutos do sul por onde se transporta o gás para a Europa, em estabelecer uma rede de alianças com as repúblicas centro-asiáticas, em estreitar seus vínculos militares e comerciais com a China, e em corroer a capacidade operativa da OTAN. Como potência mundial que é, a Rússia não ignora a América Latina, mas não vejo que neste momento faça parte de suas prioridades geopolíticas.

viernes, 27 de enero de 2017

"El 10% más rico concentra el 71% de la riqueza regional en América Latina"

Por João Flores da Cunha
Instituto Humanitas de Unisinos  (Brasil) / ADITAL

Entrevista a Decio Machado

Decio Machado
El fin del boom de las exportaciones de commodities alteró el escenario existente hasta hace poco en América Latina e inauguró un período de incertezas. En esta entrevista el investigador Decio Machado aborda el panorama político y económico de la región y el escenario coyuntural del Ecuador, cuya sociedad ira a las urnas el próximo día 19 de febrero para escoger al sucesor de Rafael Correa en la presidencia del país.

Machado alerta que "los beneficios derivados del auge del precio de los commodities durante estos años anteriores ya desaparecieron" y "el crecimiento de la deuda externa vuelve a ser una realidad inquietante". Analizando el ciclo de gobiernos progresistas en América Latina, afirmó que existe un déficit de estos gobiernos respecto a la carencia de transformaciones estructurales y combinar la "radicalidad discursiva con la convivencia junto al poder de las élites económicas que históricamente dominaron nuestros países".

El pensador desarrolla fuertes críticas al modelo de desarrollo basado en la exportación de materias primas, y defiende que este sea superado. Para él, "tenemos que superar el faso dilema ´extractivismo o pobreza´implementado en América Latina, y "no deja de causar sonrojo que el planteamiento estratégico de los gobiernos latinoamericanos para superar el extractivismo esté basado en implementar cada vez más extractivismo".

El investigador abordó las relaciones económicas de la región con China, y considera las medidas proteccionistas que serán implementadas por el gobierno de Donald Trump en Estados Unidos profundizarán aún más las "relaciones comerciales, económicas y militares que ya se vienen establecimiento entre América Latina y la zona Asia - Pacífico".

¿Cuál es escenario político y económico actual en Ecuador?

El país vive un momento de transición política. Tras diez años de mandato,  Rafael Correa abandonará su cargo el próximo 24 de mayo, fecha en la que será investido el próximo presidente de la República del Ecuador. Más allá de quien gane las elecciones del 19 de febrero, esto significará un cambio en la política institucional del país, pues el correismo, para bien y para mal, en la práctica se transformó en una propuesta de concentración de poderes en torno a un líder carismático que difícilmente tendrá continuidad sin su presencia en el Palacio de Carondelet.

En lo que concierne a lo económico, tras un prolongado período de bonanza derivado del llamado “boom de los commodities” el país se ha visto fuertemente golpeado por la caída del precio del petróleo, la apreciación del dólar y el encarecimiento del financiamiento externo. El sumatorio de estas circunstancias ha hecho que la economía ecuatoriana cierre el año 2016 con una contracción del 1,7%, a la par de que el déficit fiscal se ha mantenido pese a que la deuda pública (interna y externa) se haya incrementado notablemente. Indicadores sociales positivos logrados durante gran parte del período correista en el ámbito de la lucha contra la pobreza, la disminución del desempleo, las mejoras en las condiciones laborales de los trabajadores y el crecimiento de la capacidad adquisitiva de la población, se encuentran en la actualidad en franco deterioro.

¿Cómo define usted el gobierno de Rafael Correa? ¿Cuál es el legado de su gobierno?

Considero que quien mejor definió este período fue el propio presidente Rafael Correa cuando dijo aquello de que “básicamente estamos haciendo mejor las cosas con el mismo modelo de acumulación”. En la práctica, se trata de un gobierno que impulsó la modernización del sistema capitalista en Ecuador a través del fortalecimiento del rol del Estado. Para ello, se impulsaron políticas sociales compensatorias que fueron el eje de esta nueva gobernabilidad, a la par que se exacerbó el modelo de explotación extractivista de recursos naturales y se fomentó ampliamente la construcción de obras de infraestructura en el país.

Su legado combina la estabilización política con el desarrollo de un modelo de Estado-control, lo que implica la desarticulación y neutralización del tejido social organizado que antaño había sido protagonista de grandes luchas sociales. Para ello, el correismo se empeñó en controlar la vida colectiva desde el aparato del Estado mediante la judicialización de la protesta social. Desde esa perspectiva el régimen correista es altamente involucionista, pues entiende al Estado-nación como límite del pensamiento y las prácticas emancipatorias de los distintos pueblos y nacionalidades que conforman Ecuador.

En la actualidad, con el advenimiento de la crisis económica fruto del fin de la “década dorada de los commodities”, quedó en evidencia que lo construido en materia de mejoramiento de los indicadores sociales a lo largo de este período tiene unos pilares demasiado frágiles. Esto nos hace reflexionar sobre el hecho de que no es posible mejorar estructuralmente la situación de los pobres sin tocar los privilegios de las élites económicas y los grandes grupos de poder.

¿Cuál es su expectativa hacia las elecciones presidenciales? ¿Cree que Lenín Moreno será electo?

El hecho que Rafael Correa no esté en la papeleta de votación sumado a que el país se encuentra en recesión económica, generó amplias expectativas en los sectores de oposición al régimen. Sin embargo, han sido los propios errores de estos los que les llevaron a situarse en condiciones desfavorables durante esta contienda electoral.

En el ámbito conservador, la rivalidad entre distintas facciones de la derecha no les permitió presentar una candidatura de unidad frente al régimen; y en el caso de las disidencias por la izquierda al correísmo, quienes si consiguieron unificarse en torno a una candidatura presidencial común, les faltó el valor para desarrollar un programa rupturista que fuera más allá de la prédica sobre la recuperación de la democracia y las libertades.

El discurso de las diversas candidaturas opositoras, con independencia de su sensibilidad política, terminaron convergiendo en una narrativa común que se basa en el mal manejo económico del régimen durante los últimos años y la corrupción institucional existente, haciendo difícilmente distinguibles sus diferentes propuestas programáticas ante la ciudadanía.

Por su parte, la campaña electoral del oficialismo esta basada en evidenciar la obra pública y la inversión social realizada durante esta década, posicionando a su candidato presidencial como cambio de estilo a la hora de gobernar dentro de la continuidad del régimen.

Los sondeos serios sobre intención de voto en Ecuador indican que el oficialismo baja su intención de voto en función de que van aflorando distintos escándalos de corrupción durante el mandato del presidente Correa, mientras que los partidos de oposición no crecen en esa misma proporción. Mientras Alianza PAIS mantenga una ventaja superior a 10 puntos porcentuales sobre sus distintos rivales electorales, la disputa está en que la candidatura de Lenín Moreno obtenga el 40% de los votos válidos para ganar en primera vuelta. De no ser así, es decir, en caso de que exista una segunda vuelta o balotaje, la cosa podría complicársele al oficialismo, dado que estaríamos ante un escenario de rearticulación de alianzas entre las fuerzas opositoras.

¿Desde un punto de vista de la izquierda, quién es el mejor candidato a la presidencia de Ecuador?

Considero que si algo debemos aprender las izquierdas de este periodo definido como “ciclo progresista” en América Latina, es que más allá de que con determinadas políticas sociales se mejore coyunturalmente los guarismos de la desigualdad, es necesario políticas reales de redistribución de la riqueza que transformen el modelo de acumulación desigual heredado del neoliberalismo.

El déficit de los gobiernos progresistas en lo que respecta a la falta de cambios estructurales en nuestras respectivas economías nacionales, deviene del hecho de que combinaron su radicalidad discursiva con la convivencia junto al poder de las élites económicas que históricamente han dominado nuestros países. Esto implicó que la crisis hegemónica neoliberal derivase en un modelo posneoliberal carente de proyecto anticapitalista.

Volviendo al caso ecuatoriano, no veo en la candidatura presidencial oficialista ni en la candidatura aglutinadora de las izquierdas disidentes al correísmo ninguna reflexión al respecto. No encuentro ni en uno ni en otro programa la capacidad de imaginar el fin de la depredación capitalista.

En Ecuador, Correa tuvo desgastes por cuenta del fracaso de la iniciativa Yasuní-ITT. En Bolivia, el presidente Evo Morales tuvo problemas por causa del proyecto de la carretera en el Parque Tipnis. ¿Cómo ve la relación entre esos gobiernos y los movimientos sociales e indígenas de eses países?

El problema de fondo entre los llamados gobiernos progresistas y los movimientos sociales es que en estos países ha registrado un aumento de la represión contra la protesta social. Tanto en Ecuador como en Bolivia hemos visto como se han adoptado medidas administrativas en contra de las organizaciones sociales que han explicitado su rechazo al modelo extractivista, a la par que se han aplicado lógicas de criminalización a la protesta social sobre líderes comunitarios, organizaciones de mujeres y comunidades indígenas en resistencia.

Estos hechos son un reflejo de la involución de estos procesos políticos, donde a la disidencia social se le ha acusado de rebelión, sabotaje e incluso de terrorismo. Asistimos a nivel planetario a la implementación de una nueva tecnología de poder por parte de los Estados, y para ello se necesita poner en marcha medidas de disciplinamiento que normalicen a la sociedad, descomponga a sus individuos, fijando procedimientos de adiestramiento progresivo y control permanente sobre la sociedad civil. Lo sorprendente en el caso de los países progresistas, es que dichas políticas se asuman con naturalidad por parte de gobiernos que dicen hablar en nombre de sus pueblos y movimientos sociales.

El desarrollo económico de América Latina en los años recientes fue en gran parte impulsado por la exportación de commodities. ¿Cuáles son los impactos de ese modelo extractivista para los países del continente?

Durante esta última década y media el modelo de desarrollo latinoamericano ha agudizado su dependiente inserción internacional como proveedores de materias primas. Esto ha implicado una mayor vulnerabilidad de estas economías, subordinándolas a las fluctuaciones erráticas de los mercados globales.

Más allá de esto, el impacto ambiental es incuestionable en el ámbito de la deforestación, la contaminación y el deterioro de la salud pública en los territorios afectados; y de igual manera también lo es el impacto en lo político, motivo por lo cual no es casualidad que en todos los países suramericanos se hayan identificado casos de corrupción vinculados a la gestión de sectores estratégicos y empresas extractivas. Junto a lo anterior viene de la mano un proceso de aceleración de lógicas vinculadas a la acumulación por desposesión, produciendo despojo, transformación violenta de las formas tradicionales de vida en las comunidades directamente afectadas, desplazamiento de sectores campesinos e indígenas de sus territorios históricos, militarización, criminalización de la protesta social, violencia estatal y paraestatal.

Los defensores del extractivismo entienden este modelo como un mecanismo por el cual capitalizar al Estado, para posteriormente implementar políticas destinadas a la transformación de la matriz productiva e impulsar el desarrollo endógeno en sus respectivos países. Sin embargo, estos procesos extractivistas se caracterizan por ser economías de enclave, no generan actividades económicas nuevas a través del encadenamiento productivo ni se integran en el mercado laboral, orientando la explotación de recursos naturales hacia las necesidades del mercado global. En todo caso, no deja de causar sonrojo que el planteamiento estratégico de los gobiernos latinoamericanos para superar el extractivismo esté basado en implementar cada vez más extractivismo.

¿Cree Ud. que es posible revertir 500 años de colonialismo y extractivismo en América Latina? ¿Existe alguna alternativa a este modelo?

Como ya indiqué anteriormente, la superación del modelo primario exportador en el subcontinente basa su urgencia en cuestiones de índole económicas, políticas, ambientales e incluso de salud democrática. Para ello hemos de superar el falso dilema “extractivismo o pobreza”, implementado por los gobiernos latinoamericanos y especialmente por los que se abanderan como progresistas.

Para ello es necesario generar una serie de medidas que serían complejas de desarrollar en su integridad durante esta entrevista, pero sobre las cuales voy a apuntar algunas ideas generales ya esbozadas por otros autores: frente a la reprimarización de las economías latinoamericanas es urgente poner en marcha medidas eficaces enfocadas a la diversificación de la producción nacional e incorporar el valor interno del retorno; el proceso de integración regional, hoy paralizado, debe ser la base para la búsqueda de complementariedades económicas entre los países de la región, reduciendo dependencia respecto a los mercados del norte; los países latinoamericanos deben buscar un nuevo perfil de especialización que les permita otra forma de inserción en el mercado global; es necesario generar políticas económicas eficientes en el ámbito del encadenamiento productivo, fiscal y de la demanda; y por último debemos, bajo un criterio de sostenibilidad planetaria, armonizar economía y sociedad con la naturaleza bajo los principios del Buen Vivir, pasando del antropocentrismo al biopluralismo.

Estamos obligados, por el bien común y la supervivencia planetaria, a cambiar el actual paradigma civilizatorio.

¿En el marco de ese modelo económico extractivista, cómo ve usted la relación de América Latina con China? ¿Ud. diría que la economía latinoamericana depende de las materias primas que exporta para China?

Los principales beneficiarios del auge del comercio entre China y América Latina han sido los exportadores de materias primas. Fíjate que durante el período comprendido entre 2001 y 2010 las exportaciones de productos mineros y combustibles fósiles a China crecieron a un ritmo del 16% anual. Si quitas a México, las cinco principales exportaciones de bienes primarios de todos los países de la región representan como mínimo el 80% del valor total de las exportaciones a China, siendo las materias primas su eje motriz. Esto hizo que la región sufriese una fuerte reprimarización de sus economías.

Sin embargo, en la actualidad China está atravesando por un programa de reajuste de su modelo de desarrollo hacia algo que pretende ser más sostenible en el tiempo. Esto implicará un menor dinamismo en su crecimiento económico y una mayor dependencia de su consumo interno, junto al impulso de industrias con mayor valor agregado y servicios.

Volviendo a la lo expresado en la pregunta anterior, si América Latina, pese a la asimetría existentes en su relación comercial con China, quiere seguir siendo competitiva ante este país, esta obligada a diversificar y modernizar su estructura productiva. Según proyecciones de la CEPAL enmarcadas en el ámbito de las reformas que en la actualidad están teniendo lugar en China, para el 2030 el crecimiento promedio de las exportaciones latinoamericanas de metales y minerales hacia este país podría caer del 16% en la década anterior al 4% y los mismos indicadores de reducción se prevén en el caso de los combustibles.

Sin embargo, China tendrá el año 2030 una cifra superior a 1.400 millones de habitantes. Mientras la población china equivale al 19% de la población global, el país tan solo dispone de un 7% de tierra cultivable y el 6% de las reservas hídricas mundiales. En base a la recomposición del consumo que se está dando en China (desciende la demanda de arroz y trigo mientras aumenta el consumo de azúcar, carne de ave y ovino, pescado, aceites vegetales, frutas y verduras, leche y carne de ternera), América Latina debería estar diseñando políticas proactivas de desarrollo productivo en esos sectores, potenciando la asociatividad de los pequeños productores y cooperativas para que tengan un rol destacado en la exportación de productos agropecuarios, con un modelo de producción respetuoso con el entorno natural y con políticas de dignificación del empleo y salarios.

Por poner tan solo otro ejemplo, en el caso del turismo, donde China se ha convertido en un gran mercado exportador de visitantes al extranjero, la situación de América Latina también continúa siendo marginal sin que estos gobiernos tengan hasta el momento capacidad de alterar sustancialmente esta realidad. Los gastos de los turistas chinos en el exterior fueron en el año 2015 de 215.000 millones de dólares, un 53% más que el año anterior. Sin embargo, de estos más de 120 millones de embarques internacionales protagonizados por la población china, tan sólo el 0,7% llega a América Latina, hospedándose además en instalaciones cuya propiedad es de grandes holdings hoteleros internacionales, en lugar de potenciarse el turismo comunitario, la economía social y solidaria, así como a las economías de los habitantes de las localidades afectadas.

¿Cómo ve las perspectivas económicas para América Latina? Las proyecciones del FMI y del Banco Mundial indican un bajo crecimiento en 2017.

Como ya demostró Tomas Piketty, desde 1700 hasta 2012 la economía mundial creció en promedio 1,6% anual, mientras la tasa de retorno del capital estuvo entre el 4 y 5%, lo que implica que la riqueza global terminó en muy pocas manos y en el caso de América Latina estos indicadores han sido aún de mayor concentración.

A pesar de la reducción de los indicadores de pobreza a los que hemos asistido durante los últimos años en la región, fruto de no haberse intervenido sobre los pilares estructurales de la desigualdad, en la América Latina de hoy el 10% más rico de la población concentra en la actualidad el 71% de la riqueza regional. El propio Banco Mundial goza de informes en los cuales se indica que si esta tendencia continúa, en menos de diez años, el 1% mas rico de la región tendrá más riqueza que el 99% restante.

Desde esta perspectiva, el problema no es tanto el indicador de crecimiento pronosticado por las instituciones de Bretton Woods, sino como es repartida dicha riqueza en nuestra región. Es un hecho que las ganancias derivadas del auge del precio de los commodities durante los años anteriores ya se desvanecieron y que el crecimiento de la deuda externa vuelve a ser una realidad inquietante sin que por eso se estén aplicando políticas fiscales claramente progresivas que busquen modelos comprometidos con la equidad social.

Lo anterior no quita para reconocer que estamos ante la primera recesión bianual en más de tres décadas en la región, lo que implica también el riesgo de que parte de los sectores que se incorporaron a las clases medias en estos últimos años puedan revertir su condición en un futuro inmediato. Según la CEPAL, ya en 2015 se incrementó en siete millones de personas el número de pobres en América Latina, lo que representa un retroceso sobre los indicadores de disminución de la pobreza obtenidos durante el período inmediatamente anterior.

Pero hablemos claro, a pesar de lo explicitado anteriormente los gobiernos de América Latina y entre ellos también los de perfil progresista, siguen otorgando un trato favorable a las compañías multinacionales en materia fiscal. Un reciente estudio realizado por Oxfam revela que la carga impositiva para las empresas nacionales latinoamericanas equivale al doble de la carga efectiva soportada por las compañías transnacionales, lo cual no puede hacernos sentir más que vergüenza en una región que es considerada como la más desigual del planeta.

¿Cuáles son las perspectivas para América Latina en el gobierno Trump, y para México en especial? 

Ni en su campaña electoral ni en su discurso de investidura Donald Trump le ha dado mayor importancia a América Latina. Más allá de lo especulativo, en lo que concierne al subcontinente tan solo existen dos anuncios claros: la ratificada propuesta de ampliar el muro ya existente en la frontera sur estadounidense y la renegociación del Tratado de Comercio de América del Norte (TLCAN) que tendría un impacto sobre México, así como la voluntad de “dar marcha atrás” a las medidas de normalización de las relaciones diplomáticas con Cuba impulsadas por la administración Obama.

Comenzando por México, cabe indicar que los problemas de su economía nacional devienen de antes, y son el fruto de una divisa que se ha devaluado más de un 50% en los últimos dos años, una inflación al alza por los incrementos de la gasolina y la energía eléctrica, una deuda pública que alcanza ya el 48% del PIB y una serie de periódicos recortes del gasto público que han mermado la capacidad adquisitiva de su población. Más allá de lo anterior, el “efecto Trump” está generando que los cinco sectores que concentran el 60% del PIB mexicano (manufactura, comercio, sectores inmobiliarios, construcción y minería) estén registrando una importante desaceleración respecto al año anterior. La inestabilidad económica que atraviesa el país está provocando fuga de capitales, sus exportaciones a los Estados Unidos tienen el riesgo de sufrir un gravamen del 35% y la industria maquiladora que se ubica en la frontera podría incluso llegar a desaparecer.

Parte de lo que sucede hoy en México es la consecuencia de que el país ha sido incapaz de diversificar sus exportaciones, hecho que determina que el 80% de estas tengan como destino los Estados Unidos. Entiendo que en la actual coyuntura, el gobierno mexicano está obligado a modificar esta realidad y reposicionar con urgencia su mirada sobre el mercado asiático. A pesar de la importancia adquirida por China en la región, las ventas de productos mexicanos a este país no sumaron más del 1,5% del total de sus exportaciones durante el pasado año.

Respecto a Cuba, los beneficios económicos que ha traído para la isla su normalización de relaciones diplomáticas con Estados Unidos son evidentes y ahora podrían estar también en riesgo. En un momento en el que las economías de países solidarios con el pueblo cubano, como es el caso de Venezuela, están en deterioro, Cuba alcanzó el pasado año la cifra récord de cuatro millones de turistas. Esto implica un crecimiento del 13% del sector turístico cubano respecto al año anterior (segunda fuente de ingresos del país) y en ello tiene mucho que ver que el número de visitantes estadounidenses se haya incrementado en un 80%.

¿Cómo los eventuales cambios geopolíticos generados por la elección de Trump pueden impactar América Latina? ¿Si se concreta un escenario de mayor proximidad entre Estados Unidos y Rusia, qué significaría eso para nuestro continente?

Las lógicas proteccionistas que fueron el eje fundamental del discurso de campaña del ya hoy presidente Donald Trump, presuponen un escenario en el cual el acceso de los productos de exportación latinoamericanos hacia el mercado estadounidense posiblemente decrezca de forma notable. Lo anterior implicará una profundización aún mayor de las relaciones comerciales, económicas y militares que ya se vienen estableciendo entre América Latina y la zona Asia – Pacífico. No creo que la cosa vaya a más, dando que considero que la centralidad geopolítica que en algún momento llegó a tener América Latina se ha desplazado en los últimos años a otras zonas del planeta.

Respecto a su segunda pregunta, considero que el sorprendente nuevo marco de relaciones entre Estados Unidos y Rusia no generará tampoco grandes cambios en nuestra región. El interés principal de Rusia, verdadero triunfador en las elecciones estadounidenses, está en las zonas geográficas que corresponde a las repúblicas que antaño formaron parte de la extinta Unión Soviética, en las rutas gasíferas del sur por donde se transporta el gas hacia Europa, en establecer una red de alianzas con las repúblicas centroasiáticas, en estrechar sus lazos militares y comerciales con China, y en erosionar la capacidad operativa de la OTAN. Como potencia mundial que es, Rusia no ignora a América Latina, pero no veo que en estos momentos forme parte de sus prioridades geopolíticas.

sábado, 21 de enero de 2017

Ecuador: "Una campaña electoral sin chicha ni limoná"

Entrevista al sociólogo y analista político Decio Machado
Para Kamunikacyjnaje Ahienctva

Decio Machado 
Ante las próximas elecciones presidenciales y legislativas que tendrán lugar en Ecuador en próximo 19 de febrero, haznos una descripción general del electorado ecuatoriano.

Algo más 12,8 millones de ciudadanas y ciudadanos están convocados a este comicio electoral. Para el 82,6% de estos, cuya edad está comprendida entre 18 y 65 años, el voto es obligatorio. Para el resto, jóvenes con edades de 16 y 17 años, así como las y los mayores de 65 años, el voto es voluntario. Por otro lado, cerca de 400 mil de estos electores residen en el exterior y respecto a la división por sexo, la cosa más o menos se mueve en el 50%.

Por último, creo importante reseñar que hay tres provincias que deciden la tendencia de los resultados nacionales. La más importante entre ellas es la provincia del Guayas con algo más de tres millones de electores, le sigue Pichincha –donde se ubica la capital del país-  con unos dos millones doscientos mil electores, y por último Manabí con casi otro millón doscientos mil. Estos tres territorios definirán los resultados finales de las presidenciales ecuatorianas.

¿Cómo ves la evolución de la campaña en curso?

Es una campaña muy fría, la ciudadanía la vive sin gran fervor. No hay involucración de la gente con los partidos y candidatos en liza. Los actos públicos no gozan de gran afluencia y gran parte de la gente que asiste están motivados por cuestiones diferentes a la implicación política con los partidos convocantes. En el caso del partido de gobierno el tema se vuelve escandaloso, porque los funcionarios públicos son obligados a asistir a estos mítines bajo la amenaza de perder sus empleos.

La sociedad ecuatoriana tiene en estos momentos básicamente tres ejes de preocupaciones principales y estas son: el complejo estado de la economía nacional; vinculado a lo anterior el incremento del desempleo, el deterioro de las condiciones de trabajo, la pérdida de capacidad adquisitiva y el endeudamiento cada vez mayor de las familias ecuatorianas más humildes; y por último la corrupción, que comienza a ser digerida por la sociedad bajo la visión general de que todos roban.

Los partidos políticos y sus candidatos hablan sobre estas cuestiones en sus alocuciones y entrevistas públicas, sin embargo la gente no deposita en sus propuestas gran esperanza. El correísmo nació como un revulsivo político-electoral al descrédito de la política en la última fase del neoliberalismo en Ecuador, generó muchas sinergias e ilusiones iniciales, pero en apenas diez años ha dejado nuevamente a la legitimidad política del sistema democrático en la picota.

¿Cómo se canalizará eso electoralmente el 19 de febrero?

El descrédito en el que ha vuelto a entrar el sistema político del país se expresará de una forma sutil el próximo 19, así que es fácil que los actores institucionalmente involucrados no interpreten los resultados de estas elecciones de forma adecuada.

Si en Ecuador el voto no fuera obligatorio, seguramente asistiríamos en estas elecciones a un índice de abstención cercano al 60%. A estas alturas el indicador de indecisión en las encuestas se mantiene muy alto, son los más altos desde la reinstauración de la democracia en el país. Si estos índices de indecisión los ubicas por targets poblaciones, encontrarás que cuanto más jóvenes son los electores mayor es la indecisión; también que las mujeres están más indecisas que los hombres; y los sectores de trabajadores y trabajadoras más golpeadas por la crisis también están altamente indecisos.

A pesar de todo lo anterior, como en este país es obligatorio el voto, si no votas te sancionan económicamente y a través de diferentes actos administrativos terminan complicándote bastante la vida, la gente acudirá a las urnas cuando llegue el momento. El sistema político ecuatoriano exige a sus ciudadanos que acudan a las urnas aunque estos no quieran ver a sus políticos ni en pintura.

Seguramente y tras el proceso electoral veamos a los voceros de las diferentes tiendas políticas autodefinirse como representantes de determinados sectores de la sociedad, más allá de que realmente el voto que reciban sea prestado/obligado y no los representen. El ganador final de la contienda seguramente superará tal osadía, se autoreconocerá como la expresión política de la mayoría de los ciudadanos ecuatorianos. En fin, más allá de la crisis de representatividad que ya se visualiza en la política ecuatoriana, todo este show forma parte del juego de falsedades que generan estos sistemas democráticos basados en la representación por parte de elites políticas respecto a los de abajo.

Más allá de lo anterior, ¿cuál es tu pronostico electoral?

Estamos casi a mitad de la campaña y se evidencia, en base a las encuestas metodológicamente más serias, que mientras el partido de gobierno mantiene una sostenida caída en intención de voto, los partidos de oposición no crecen en exceso. Esto determina que los objetivos de Alianza PAIS se mantengan en intentar ralentizar al máximo su actual deterioro, buscando que su candidato presidencial, Lenin Moreno, llegue al 19 de febrero aún con posibilidades de ganar en primera vuelta. Para ello están puestas en marcha diferentes estrategias políticas que podrían resumirse en salpicar con el lodo de la corrupción también a los contrincantes electorales del gobierno. El mensaje sería algo así como: no solo nosotros somos corruptos, también lo son los demás. En fin, una estrategia de escasa elaboración estratégica que es fácil de aplicar, dada la realidad de la política institucional, y que busca que los sectores sociales votantes del partido de gobierno no encuentren opciones hacia donde mover su voto en un momento en el que es perfectamente visible el deterioro ético del correísmo.

La tensión política está en si el oficialismo es capaz de ganar o no en primera vuelta. Estando la oposición política al régimen, en el mejor de los casos, a 13 o 15 puntos de distancia respecto a la intención de voto del partido de gobierno, lo que está en discusión es si Alianza PAIS es capaz de alcanzar el 40% de los votos validos en la primera vuelta. Es una sospecha generalizada que para alcanzar dicho objetivo podrían contar incluso con una "ayudita" por parte del Consejo Nacional Electoral, un órgano que se supone rector de la democracia en el país pero que está bajo control del régimen. En todo caso, la única expectativa para la oposición es que la candidatura oficialista no llegase a ganar en primera vuelta, lo que permitiría una suerte de reconfiguración de alianzas entre opositores cara a una segunda vuelta.

¿Y la izquierda a la izquierda del gobierno que haría en una segunda vuelta?

Los sectores políticos englobados en lo que se ha venido en denominar la Alianza Nacional por el Cambio, donde se agrupan las sensibilidades políticas a las que entiendo haces referencia, están inmersos en una trampa política que ellos solitos se tejieron. Buscando una posición pragmática que entendieron les daba mayor asidero electoral, configuraron una propuesta política de corte insípido que a la postre les genera un discurso político que no es "ni chicha ni limoná". Dicha propuesta programática la hicieron incluso con gente que posteriormente abandonó dicha alianza electoral y se pasó a las filas conservadoras. Además, durante la campaña electoral y siguiendo esa línea estratégica, se han ido distanciando cada vez más de los sectores políticamente más alternativos de la sociedad, lo cual agudizó notablemente su déficit de identidad. Los indecisos son los que definirán el resultado final de las elecciones ecuatorianas, aunque confieso que personalmente no veo que este sector de la izquierda pueda obtener un gran resultado. 

Respecto a que harían en caso de una segunda vuelta, todo es tan confuso como su propio discurso. En todo caso, el escenario que parece más posible si es que llegará un escenario de segunda vuelta es de división. Una parte de estos podrían terminar apoyando al oficialismo, lo que implica a la postre legitimar la corrupción institucional existente; y otros podrían terminar en posiciones de apoyo a los conservadores, lo que vendría significaría situarse en posiciones difícilmente justificables desde el punto de vista de la coherencia ideológica.

No eres muy optimista sobre la evolución política de la izquierda en Ecuador

No, no lo soy... Además te confieso que si hago una correlación entre discursos, programas, prácticas, actitudes y conductas, tengo serias dificultades para identificar el espectro político institucional de la izquierda en Ecuador.

¿Cómo rearticular entonces a los movimientos sociales en Ecuador?

Es una pregunta para los movimientos sociales. En todo caso, mi visión es que llegue el gobierno que llegue, durante el próximo período nos encontraremos inexorablemente frente a un plan de ajuste. El próximo gobierno tendrá que renegociar los plazo del pago de la deuda externa contraída por el correísmo en los últimos años y de igual manera se rearticularán políticas de entendimiento con el sector empresarial que en base a los reclamos que estos están haciendo, tendrá un impacto aún mayor del que ya sufren las y los trabajadores con la crisis. Es sobre las espaldas de los sectores más vulnerables sobre quien el gobierno está haciendo recaer la crisis, y esto es perfectamente visible con tan solo analizar el incremento salarial aplicado para este año o a quien beneficia el deterioro de las condiciones laborales en el país.

En todo caso, por todo lo indicado anteriormente, considero también que el próximo gobierno será débil y con escasa legitimidad social. Es de suponer entonces que pudiera haber un incremento de la tensión social en el país. Será sólo a través de las luchas como los movimientos sociales lograrán reempoderarse nuevamente, ahora eso sí, solo se puede hacer esto dejando atrás a la actual cartografía existente en la izquierda política ecuatoriana. Me temo que será un trabajo de años y para ello será necesario la construcción e implicación de una nueva generación militante.